quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Moscou se volta para a Bielorrússia

(Bandeiras da Bielorrússia e Rússia.)

          Em sua coluna no jornal The Washington Post de 4 de janeiro, Anne Applebaum busca chamar a atenção dos recentes movimentos que Rússia tem feito em relação ao seu vizinho ao oeste, a Bielorrússia. Segundo a jornalista e historiadora americana, a ambição imperial de Moscou tem se voltado para Minsk, e alguns destes sinais seriam a possibilidade dos russos assumirem alguns dos serviços do governo bielorrusso como a alfandega, a emissão de vistos e a política monetária e de impostos. Tais medidas comporiam um projeto de maior integração da economia dos dois países. 

          O presidente do país, Alexander Lukashenka, se encontrou com Putin nos dias 6 e 25 de dezembro passados e, num sinal de reaproximação política, trocou felicitações pública de Ano Novo com seu colega. Em sua mensagem, Putin afirmou que a união entre os dois países criada pelo tratado que estabeleceu o Estado da União da Rússia e Bielorrússia em 1999 tem sido um sucesso. Desde a crise na Ucrânia em 2014, Lukashenka tem se distanciado de Moscou e tentado projetar uma política externa mais independente aproximando-se da Europa. A Rússia, por seu turno, tem buscado evitar o distanciamento da Bielorrússia e consolidar sua influência nos países do entorno. 
   
          Em 28 de dezembro, o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev assinou um decreto que criou um comitê para atuar na integração entre os dois países. O comitê será presidido pelo Ministro de Desenvolvimento Econômico Russo, Maxim Oreshkin. Isto sinaliza de aprofundamento da relação e, por consequência, de um maior atrelamento da Bielorrússia ao seu vizinho mais poderoso.

          Como comentei no final de dezembro, a Bielorrússia tem dado recentes sinais de distanciamento da Rússia, como a declaração de Lukashenka de que se referirá ao país vizinho não como "estado fraternal", mas "parceiro", e a afirmação de que não são necessárias bases militares estrangeiras em seu país, inclusive russas. Disse também que a Bielorrússia nunca será parte da Rússia. A reação de Moscou, portanto, não é surpreendente. Como lembra Applebaum, a popularidade de Putin está em queda, e demonstrações de força no exterior, como as guerras na Geórgia, na Ucrânia e na Síria, renovam o capital político do Kremlin, além de reafirmar o poder russo perante o mundo. 

          Applebaum lembra, por fim, que o Ocidente tem dado cada vez menos relevância a Minsk, e este desinteresse poderia encorajar as ações de Moscou num movimento de absorção do país vizinho. Não cabe aqui analisar esta possibilidade que tem sido aventada por alguns analistas do Ocidente, mas dado o histórico dos governos de Putin esta possibilidade não é nula. Refiro-me ao reordenamento da política russa desde 2000 com um poder crescentemente centralizador, as ações agressivas no estrangeiro desde que o presidente russo reassumiu o posto em 2012 e a forte influência do Movimento Eurasiano na elite política e militar da Rússia que almeja a criação de um poder imperial. A atual crise econômica do país e o descontentamento da população com o plano de governo de reformar a previdência anunciado, não por acaso, durante a Copa do Mundo são fatores adicionais que podem estimular ações do Kremlin no exterior. Mesmo que Lukashenka afirme garantir o contrário, a falta de força e a dependência econômica e energética em relação aos russos lhe dá limitada margem de manobra. 

          Desde que assumiu a presidência no último dia de 1999, Putin tem tentado reerguer a potência Rússia e reestabelecer seu Império. Isto indica a necessidade de ganhar não apenas poder, mas também terreno. Literalmente. 

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