quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Mercenários russos na Venezuela

(Mercenários russos do grupo Corpo Eslavo, na Síria.)

        Mercenários russos do Grupo Wagner, que tem atuado na Síria e na Ucrânia, chegaram à Caracas com o objetivo de fazer a segurança de Nicolás Maduro e outras altas autoridades da Venezuela. A notícia em inglês foi divulgada inicialmente, dia 25 de janeiro, pela Agência Reuters, mas um levantamento feito pela Fundação Jamestown mostrou que, de fato, os mercenários foram enviados de Moscou, passando por Dacar (Senegal), Ciudad del Leste (Paraguai) e Havana (Cuba), antes de chegar à capital venezuelana por um voo comercial no dia 22. A trajetória aparentemente errática da viagem levanta a hipótese de que fora planejada para não levantar suspeitas.      

          Segundo a Jamestown, mercenários russos chegaram à Venezuela já em maio de 2018, antes da atual crise política, iniciada em janeiro com a posse de Maduro para um novo mandato como presidente. A nova leva de combatentes veio, portanto, a somar-se aos que já se encontravam no país. Seriam até 400 novos mercenários.

          Dois dias depois da notícia na Reuters, vários veículos de comunicação informaram que Moscou negou o envio desses mercenários. A Jamestown comenta, porém, que em geral a reação das autoridades russas tem sido de negação ou silêncio sobre o assunto. Em 23 de janeiro, a porta-voz do Kremlin, Maria Zakharova, admitiu que companhias privadas russas de segurança atuavam no Sudão e entrou em contradição com o embaixador russo no país, que em novembro de 2018 havia negado o fato. Este lapso pode ser um indicativo de que a Rússia busca manter silêncio sobre mercenários contratados pelo governo para atuar em nome dos interesses de Estado. Há companhias privadas russas atuando também no Gabão e na República Centro-Africana, como apurou com detalhes a agência Coda.

          Como comentei na última postagem, a Rússia tem muito a perder com a queda do governo de Maduro, que encontra-se cada vez mais isolado internacionalmente, mas tem apoio explícito, além dos russos, da China e da Turquia. A queda do governo significaria a perda de contratos para grandes empresas russas, de dinheiro por não pagamento de empréstimos (que Maduro tem tido dificuldades de pagar) e, principalmente, de um espaço de influência política e militar numa região próxima dos EUA. Um adversário geopolítico ao lado de Washington significa o triunfo de Moscou no seu empenho pela corrosão da liderança global norte-americana. Daí a disputa dos dois países em torno da crise venezuelana. 

          Até o momento, Moscou não tem dado sinais de que enviará militares para a Venezuela ante a possibilidade, mesmo que pequena, de uma intervenção militar de Washington. Enquanto acusa os EUA de promover, com seus aliados, um golpe de Estado na Venezuela e um potencial derramamento de sangue, a Rússia busca se antecipar a uma convulsão social ou mesmo intervenção estrangeira utilizando-se de mercenários pagos. Ao menos por enquanto.

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