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sábado, 12 de janeiro de 2019

Trump, partner of Russia? Notes on Anne Applebaum´s article

(Trump and Putin at Helsinki summit, on July 16th, 2018.)

          In the last post, I commented on the deepening of the integration between Russia and Belarus, making the later more dependent on Moscow, away from the Western countries. I used as base an article by US journalist and historian Anne Applebaum written in The Washinton Post on January 4th.

          The Applebaum´s text gave reasons for the Western countries to pay more attention to Russia´s moves towards Belarus, which they haven´t done, citing as main example the Trump´s stance. His government would have gave up US´s historical commitment to a united and free Europe (a clear allusion to his scorn for the European Union) and he would be helping to disseminate informations that collaborate for Russian propaganda on many issues, such as events (without specifying them) involving Montenegro and Afghanistan. Trump administration would have given a strange attention to a non-existent invasion plan of Belarus by Poland, for example, widely publicized by Russian media. In Applebaum´s words, the US president is "inclined to see the Russia´s point of view on most issues".

          Following Applebaum´s posts in Twitter, one realizes that the journalist and historian is a harsh critic of Trump. There is nothing unusual and wrong on this, but watching Western analysts by the same media, practically of them are harsh critics, if not mockers, on the US president. This makes more difficult a cold analysis and calls into question the alleged impartiality of the sources.      

          The US stance on Russia is seen as negative when the president addresses directly to the Russian colleague. The analyst see this, with some reason, as a caring and undeserved treatment to Putin. But let´s look at some points: early in Trump´s turn, former US diplomat in the UN, Nikki Halley, firmly stated that the US would not lift the economic sancations against Russia while it don´t give Crimea back to Ukraine. This was also the position of the US president himself. His former Secretary of Defense, Jame Mattis, was a staunch supporter of NATO, military alliance which have been the Kremlin´s main headache for more than 20 years. Furthermore, on April 11th, 2017, Trump supported the Montenegro´s entry into the aliance, and in September 2018 he still considered setting up an American military base in Poland, for displeasure of the Russians. Not only Poland, but the Baltic countries are in favor of the US presence in the region. They knew the Russian domain in Communist times and don´t want it back, nor as a possibility.


(Anne Applebaum)

          If we compare Trump´s action with his predecessor, the opposition to Russia becomes clearer. In September 2009, the Obama government gave up the anti-missile shield project in Europe launched by his predecessor, George W. Bush, on the allegation of a nuclear treat from Iran. It so happens that Iran haven´t nuclear weapons to date. The shield was clearly a defense against Russia. But a similar initiative nowadays would generate a much more aggressive reaction from Moscow, as seen in the military tensions between Russia and NATO in the second half of 2016. Obama also withdrew troops from Iraq in 2011, which would have helped the emergence and expansion of ISIS, now acting only in Syria. On the exit of the Americans from Syria decided by Trump, the impact is much less important even this helps in Russia´s consolidation in the country, whose troops have been acting since September 2015. At the annual press conference in December, Putin made clear that regards Syria as his area of influence. He stated that the presence of the US troops in the country were "illegitimate" and classified their departure as a "right decision". The US, however, continues to have a physical presence in Iraq, maintains the alliance with Saudi Arabia and has strengthened political support of Israel. In the Obama administration, there was significant worsening of the relationships with Saudis and Israelis.   

        Contrasting with the friendly words, Trump hasn´t been so condescending to Putin in fact. By the contrary: NATO´s military strengthening, guaranteeing alliances in the Middle East, and maintaining sanctions against Russia, crucial issues to curb Russia´s projection in the world, restricts the Moscow´s global action. Remains to know whether the new Secretary of Defense, Patrick Shanahan, and the new UN diplomat, a little savvy Heather Nouert (a post temporarily occupied by Jonathan Cohen since January 1st), will follow the same policy.
       
          Criticism such as Anne Applebaum´s are legitimate, but, more important than White House´s speeches and diatribes, the main issue is what is actually happening, de facto policy, mainly in economic and military matters, two of the mais Achilles´ heel of Russia. If Trump is successful in strengthening the US in the long run (the economy is booming, for example), less space will remain for Russia in the international arena. Putin´s plan to re-establish the Russian superpower and re-create its Empire depends, mainly, of taking this post from US. As we saw in the Cold War, the world was too small for two superpowers, and for the Kremlin the Cold War isn´t over.            

* Published in Portuguese on January 10th, 2019.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Trump, parceiro da Rússia? Notas sobre o artigo de Anne Applebaum

(Trump e Putin no encontro em Helsinque, em 16 de julho de 2018.)

          Na última postagem, comentei sobre o aprofundamento da integração entre Rússia e Bielorrússia, tornando este último mais dependente de Moscou e afastando-o dos países ocidentais. Utilizei como base um artigo da jornalista e historiadora americana Anne Applebaum escrito no The Washington Post de 4 de janeiro.

          O texto de Applebaum dava razões para que os países do Ocidente dessem mais atenção aos movimentos da Rússia em relação à Bielorrússia, o que eles não têm feito, citando como principal exemplo a postura de Trump. Seu governo teria abandonado o compromisso histórico dos EUA de garantir uma Europa unida e livre (uma clara alusão ao seu desdenho pela União Europeia) e estaria ajudando a divulgar informações que colaboram para a propaganda russa em diversos temas, como eventos (sem especificá-los) que envolvem Montenegro e Afeganistão. O governo Trump teria dado uma estranha atenção a um plano inexistente de invasão da Bielorrússia pela Polônia, por exemplo, extensamente divulgado pela mídia russa. Nas palavras de Applebaum, o presidente americano está "inclinado a adotar o ponto de vista da Rússia na maioria dos temas".

          Acompanhando as postagens de Applebaum no Twitter, percebe-se que a jornalista e historiadora é uma dura crítica de Trump. Não há nada de incomum ou errado nisso, mas observando analistas ocidentais pelo mesmo meio de comunicação, praticamente todos são duros críticos, quando não debochados, em relação ao presidente americano. Isto torna uma análise fria mais difícil e põe em questão a pretensa imparcialidade das fontes.

          A postura americana em relação à Rússia é vista como negativa quando o presidente americano se dirige diretamente ao colega russo. Analistas vêem isso, com certa razão, como um afago ou tratamento imerecido a Putin. Mas vejamos alguns pontos: logo no início do mandato de Trump, a ex-diplomata americana na ONU, Nikki Haley, afirmou firmemente que os EUA não levantariam as sanções econômicas contra a Rússia enquanto esta não devolvesse a Crimeia à Ucrânia. Esta também era a posição do próprio presidente americano. Seu ex-secretário de defesa, James Mattis, era firme apoiador da OTAN, aliança militar que tem sido a principal dor de cabeça do Kremlin há mais de 20 anos. Ademais, em 11 de abril de 2017, Trump apoiou a entrada de Montenegro na aliança, e em setembro de 2018 ainda considerava a instalação de uma base americana na Polônia, para desgosto dos russos. Não apenas a Polônia, mas os Países Bálticos são favoráveis à presença americana na região. Eles conheceram o domínio russo no período comunista e não o querem de volta, nem como possibilidade.

(Anne Applebaum)

          Se compararmos as ações de Trump em relação ao seu antecessor, a oposição à Rússia fica mais clara. Em setembro de 2009, o governo Obama abandonou o projeto de criação de um escudo anti-míssil na Europa lançado por seu antecessor, George W. Bush, sob a alegação de uma ameaça nuclear do Irã. Ocorre que o Irã até hoje não possui armas nucleares. O escudo era claramente uma defesa contra a Rússia. Mas uma iniciativa semelhante nos dias de hoje geraria uma reação muito mais agressiva de Moscou, como observado nas tensões militares entre Rússia e OTAN no segundo semestre de 2016. Obama também retirou as tropas do Iraque em 2011, o que teria ajudado no surgimento e expansão do Estado Islâmico, agora atuante apenas na Síria. Sobre a saída dos americanos da Síria decidida por Trump, o impacto é muito menos relevante mesmo que isto ajude na consolidação da Rússia no país, cujas tropas atuam desde setembro de 2015. Na conferência anual à imprensa realizada em dezembro, Putin deixou claro que considera a Síria sua área de influência. Afirmou que a presença das tropas americanas no país eram "ilegítimas" e classificou sua saída como uma "decisão correta". Os EUA, porém, continuam com presença física no Iraque, mantém a aliança com a Arábia Saudita e fortaleceram o apoio político com Israel. Na gestão Obama, houve significativa piora das relações com sauditas e israelenses.

          Em contraste com as palavras amigáveis, Trump não tem sido tão condescendente com Putin nas vias de fato. Pelo contrário: o fortalecimento militar da OTAN, a garantia de alianças no Oriente Médio e a manutenção das sanções contra a Rússia, questões determinantes para a contenção da projeção russa no mundo, restringem a ação global de Moscou. Resta saber se o novo secretário de defesa, Patrick Shanahan, e a nova diplomata na ONU, a pouco experiente Heather Nouert (posto temporariamente ocupado por Jonathan Cohen desde 1º de janeiro), seguirão a mesma política.

          Críticas como as de Anne Applebaum são legítimas, porém, mais importante do que discursos e diatribes da Casa Branca, a questão central é o que está acontecendo concretamente, a política de fato, principalmente em questões econômicas e militares, os dois principais calcanhares de aquiles da Rússia. Caso Trump seja bem-sucedido em fortalecer os EUA no longo prazo (a economia americana está em plena expansão, por exemplo), menos espaço restará à Rússia na arena internacional. O plano de Putin de re-estabelecer a superpotência russa e recriar seu Império depende, principalmente, de tirar este posto dos EUA. Como vimos na Guerra Fria, o mundo era pequeno demais para duas superpotências, e para o Kremlin a Guerra Fria não acabou.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Moscow turns to Belarus

(Flags of Belarus and Russia.)

          In her column in The Washington Post on January 4th, Anne Applebaum tries to draw attention to recent moves that Russia has made vis-à-vis its neighbor to the west, Belarus. According to the US journalist and historian, Moscow´s imperial ambition has turned to Minsk, and some of this signals would be the possibility of the Russians take over some services of the Belarussian government as customs, visa, and monetary and tax policies. Such measures would be part of a greater project of integration of the two countries´ economy. 

          The country´s president, Alexander Lukashenka, met Putin on 6 and 25 December and, in a sign of political rapprochement, exchanged public New Year´s congratulation with his colleague. In his message, Putin said that the union between the two countries created by the treaty which established the Union State of Russia and Belarus in 1999 has been a success. Since the crisis in Ukraine in 2014, Lukashenka has distanced himself from Moscow and has tried to design a more independent foreign policy approaching to Europe. Russia, for its part, has sought to avoid distancing of Belarus and consolidate its influence in the surrounding countries. 

          On December 28th, Russian Prime Minister, Dmitri Medvedev, signed a decree that created a committee to work on integration between the two countries. The committee will be chaired by the Russian Economic Development Minister, Maxim Oreshkin. This signs a deepening of the relationship and, consequently, a greater linkage of Belarus to its most powerful neighbor.
   
          As I commented in the end of December, Belarus has given recent signals of detachment from Russia, such as Lukashenka´s statement that he will refer to the neighbour country not as a "fraternal state", but as a "partner", and the statement that no foreign military bases are needed in his country, including Russian ones. He also said that Belarus will never be part of Russia. Moscow´s reaction, therefore, isn´t surprising. As Applebaum recalls, Putin´s popularity is falling, and force demonstrations abroad, such as the wars in Georgia, Ukraine and Syria, renew the Kremlin´s political capital, and reaffirm Russian power to the world.

          Finally, Applebaum recalls that the West has given less and less relevance to Minsk, and this lack of interest could encourage Moscow´s actions in a movement to absorb the neighbouring country. Its not appropriate here to analyze this possibility which has been suggested for some Western experts, but given the Putin government´s history this possibility isn´t null. I refer to the Russian politics reorganization since 2000 with a increasingly centralizing power, the aggressive actions abroad since the Russian president has resumed the post in 2012, and the strong influence of the Eurasian Movement in the military and political elite of Russia which wishes the creation of an imperial power. 

          The country´s current crisis and public discontent with the government´s plan of reforming social security announced, not by chance, during the World Cup are additional factors that could stimulate Kremlin´s actions abroad. Even if Luklashenka says to guarantee otherwise, the lack of strength and economic and energetic dependence on the Russians give him limited room of maneuver.


          Since assuming the presidency on the last day of 1999, Putin has tried to rebuild the Russian power and reestablish its Empire. This indicates the need of gaining not only power, but also terrain. Literally.       

Moscou se volta para a Bielorrússia

(Bandeiras da Bielorrússia e Rússia.)

          Em sua coluna no jornal The Washington Post de 4 de janeiro, Anne Applebaum busca chamar a atenção dos recentes movimentos que Rússia tem feito em relação ao seu vizinho ao oeste, a Bielorrússia. Segundo a jornalista e historiadora americana, a ambição imperial de Moscou tem se voltado para Minsk, e alguns destes sinais seriam a possibilidade dos russos assumirem alguns dos serviços do governo bielorrusso como a alfandega, a emissão de vistos e a política monetária e de impostos. Tais medidas comporiam um projeto de maior integração da economia dos dois países. 

          O presidente do país, Alexander Lukashenka, se encontrou com Putin nos dias 6 e 25 de dezembro passados e, num sinal de reaproximação política, trocou felicitações pública de Ano Novo com seu colega. Em sua mensagem, Putin afirmou que a união entre os dois países criada pelo tratado que estabeleceu o Estado da União da Rússia e Bielorrússia em 1999 tem sido um sucesso. Desde a crise na Ucrânia em 2014, Lukashenka tem se distanciado de Moscou e tentado projetar uma política externa mais independente aproximando-se da Europa. A Rússia, por seu turno, tem buscado evitar o distanciamento da Bielorrússia e consolidar sua influência nos países do entorno. 
   
          Em 28 de dezembro, o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev assinou um decreto que criou um comitê para atuar na integração entre os dois países. O comitê será presidido pelo Ministro de Desenvolvimento Econômico Russo, Maxim Oreshkin. Isto sinaliza de aprofundamento da relação e, por consequência, de um maior atrelamento da Bielorrússia ao seu vizinho mais poderoso.

          Como comentei no final de dezembro, a Bielorrússia tem dado recentes sinais de distanciamento da Rússia, como a declaração de Lukashenka de que se referirá ao país vizinho não como "estado fraternal", mas "parceiro", e a afirmação de que não são necessárias bases militares estrangeiras em seu país, inclusive russas. Disse também que a Bielorrússia nunca será parte da Rússia. A reação de Moscou, portanto, não é surpreendente. Como lembra Applebaum, a popularidade de Putin está em queda, e demonstrações de força no exterior, como as guerras na Geórgia, na Ucrânia e na Síria, renovam o capital político do Kremlin, além de reafirmar o poder russo perante o mundo. 

          Applebaum lembra, por fim, que o Ocidente tem dado cada vez menos relevância a Minsk, e este desinteresse poderia encorajar as ações de Moscou num movimento de absorção do país vizinho. Não cabe aqui analisar esta possibilidade que tem sido aventada por alguns analistas do Ocidente, mas dado o histórico dos governos de Putin esta possibilidade não é nula. Refiro-me ao reordenamento da política russa desde 2000 com um poder crescentemente centralizador, as ações agressivas no estrangeiro desde que o presidente russo reassumiu o posto em 2012 e a forte influência do Movimento Eurasiano na elite política e militar da Rússia que almeja a criação de um poder imperial. A atual crise econômica do país e o descontentamento da população com o plano de governo de reformar a previdência anunciado, não por acaso, durante a Copa do Mundo são fatores adicionais que podem estimular ações do Kremlin no exterior. Mesmo que Lukashenka afirme garantir o contrário, a falta de força e a dependência econômica e energética em relação aos russos lhe dá limitada margem de manobra. 

          Desde que assumiu a presidência no último dia de 1999, Putin tem tentado reerguer a potência Rússia e reestabelecer seu Império. Isto indica a necessidade de ganhar não apenas poder, mas também terreno. Literalmente.