sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Agreement between Greece and Macedonia is contrary to Russia. But what does Moscow has to do with this?

(Prime Ministers Zoian Zaev, of Macedonia, and Alexis Tsipras, of Greece, watch the foreign ministers signing the Prespa Agreement.)

        Everything indicates that the relationship between Greece and Russia has worsened in recent months. The cause would be the Prespa Agreement, which the Greeks made with Macedonia, and its effects to the region's geopolitics, traditionally influenced by the Russians for at least two hundred years. 

          The Prespa Agreement, signed on June 17th, 2018, resolved a dispute between Greece and Macedonia over the latter's name. Athens complained that the nomenclature was a reference to the historical region north of its territory on the border with Macedonia, and there could be claim from neighbors as to ownership of the site. With the Agreement, the country will have to take a series of administrative measures and will be called Republic of North Macedonia.

          Indeed, the small Balkan country could claim to join into the UE and NATO, becoming the military alliance's 30th member. The late country to join the alliance was small Montenegro, in April 2017, with the US support. The non-blocking of Macedonia's entry into these two organizations is the only Greek compromise in the agreement.

          That's where the problem lies between Greece and Russia. NATO is the main Moscow's military adversary, and it was the agreement closed with Greece that made viable the Macedonia's entry. Due to the name dispute, Athens had been blocking the Skopje's entry into both NATO and the European Union.  

          Just before making his trip to Serbia on January 17th, Vladimir Putin said the deal was achieved through political pressure. In this case, by the West. This in a country whose democratic regime is still fragile. And that entry into NATO should bring more instability in an already unstable region. Its not necessary to repeat here that the Kremlin's main headache is the Western military alliance. Any organization's movement provokes reaction on the other side. And vice versa. 


          To keep in mind the sensitivity of the region in the dispute between NATO and Russia, let us recall the Montenegro's cause that I commented in this blog. From September 2015 until at least May 2016, various protests erupted in Montenegro against the government, who then pleaded for NATO entry. Demonstrators complained this plan, as well as the curtailing freedom of the press, lack of democracy and calling for resignation of then-Prime Minister Mila Djukanovic, who has been in power for more than twenty years. The main opposition leaders were favorable of a closeness to Russia, and went to Moscow to seek for political support for the change of government. They promised to end the the economic sanctions against the Russians and making Montenegro a "neutral" country between a Serbia allied of Moscow and European countries linked to NATO and the EU. 

          On October 16th, 2016, Djukanovic suffered a coup attempt. Some of its perpetrators were arrested. Some group's members were Russians and/or fled to Russia. Besides the great tension, Montenegro joined NATO in April 2017.

          Returning to Greece, discomfort with Russia caused Greeks Independent party's departure from the government coalition composed with Syria bloc of the Prime Minister Alexis Tsipras. An unusual alliance, given IG is a party with a fascist profile and the Syriza a left and far-left bloc.

          As I commented in two postings in June 2015 (here and here - in Portuguese), the Kremlin was one of those responsible for sewing the alliance and considered Tsipras a staunch Russia's ally. A list of factors linked Athens to Moscow: the government elected in January 2015 closed a gas sale agreement with Gazprom in February and agreed to extend the Turkish Stream gas pipeline, from the same company, until Greece in June; in 2016, Syriza voted against the EU's economic sanctions against Moscow in the European Parliament; in 2013, Alexander Dugin was in Greece for a lecture invited by the future Greek foreign minister, Niko Kotzias, calling to make Greece a Russia's means of influence in the European bloc, and in another occasion he suggested the name of Tsipras for the Greek government.

          Konstantin Malofeev, an oligarch promoter of the Kremlin's foreign policy and under the economic sanctions of the EU, was the financier of Dugin's contacts in Greece. One of the Independent Greeks' deputy was head of Greek-Russian Alliance, an organization dedicated to promoting the relations between the two countries. Both Tsipras and IG's members have been in Russia several times promising to lift the economic sanctions and promote an alliance with Moscow.

          Therefore, Greece's agreement with Macedonia not only went against the history of closeness between Greeks and Russians, as it hit the government coalition and the Kremlin's plan for Europe. Again, the pivot of all history was the great Russian adversary, the main barrier to the Eastern forces, NATO.     

* Published in Portuguese on January 17th, 2018.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Acordo entre Grécia e Macedônia contraria a Rússia. O que Moscou tem a ver com isso?

(Os primeiros-ministros Zoian Zaev, da Macedônia, e Alexis Tsipras, da Grécia, observam os ministros das relações exteriores assinarem o Acordo de Prespa.)

          Tudo indica que a relação entre Grécia e Rússia piorou nos últimos meses. A causa seria o Acordo de Prespa, que os gregos fecharam com a Macedônia, e os efeitos disto para a geopolítica da região, tradicionalmente influenciada pelos russos há pelo menos duzentos anos.

          O Acordo de Prespa, assinado em 17 de junho de 2018, resolveu uma disputa entre Grécia e Macedônia sobre o nome deste último país. Atenas reclamava que a nomenclatura era referência à região histórica ao norte de seu território na fronteira com a Macedônia, e poderia haver reivindicação dos vizinhos quanto à posse da área. Com o acordo, o país terá de tomar uma série de medidas administrativas e passará a se chamar República da Macedônia do Norte (ou Setentrional).

          Com efeito, o pequeno país dos Bálcãs poderá pleitear a entrada na UE e na OTAN, tornando-se o 30º membro da aliança militar. O último país a ingressar na aliança foi o pequeno Montenegro, em abril de 2017, com apoio dos EUA. O não-bloqueio da entrada da Macedônia nessas duas organizações é o único compromisso grego no acordo.

          É aí que mora o problema entre Grécia e Rússia. A OTAN é a principal adversária militar de Moscou, e foi o acordo fechado com a Grécia que tornou viável a entrada da Macedônia. Devido à disputa pelo nome, Atenas vinha bloqueando a entrada de Skopje tanto na OTAN quanto na União Europeia. 

          Pouco antes de fazer sua viagem à Sérvia em 17 de janeiro, Vladimir Putin disse que o acordo foi conseguido por pressão política. Neste caso, do Ocidente. Isso num país cujo regime democrático ainda é frágil. E que a entrada na OTAN deve trazer mais instabilidade numa região já instável. Não é necessário repetir aqui que a principal dor de cabeça do Kremlin é a aliança militar do Ocidente. Qualquer movimentação da organização provoca reação do lado oposto. E vice-versa.


          Para termos em mente a sensibilidade da região na disputa entre OTAN e Rússia, relembremos o caso de Montenegro que comentei neste blog. De setembro de 2015 até pelo menos maio de 2016, diversos protestos irromperam em Montenegro contra o governo, que então pleiteava a entrada OTAN. Os manifestantes reclamavam deste plano, bem como o cerceamento à liberdade de imprensa, a falta de democracia e pediam a renúncia do então primeiro-ministro Mila Djukanovic, há mais de vinte anos no poder. Acontece que os principais líderes da oposição eram favoráveis a uma proximidade com a Rússia, e foram a Moscou buscar apoio político para a mudança de governo. Prometeram pôr fim às sanções econômicas contra os russos e fazer de Montenegro um país "neutro" entre uma Sérvia aliada de Moscou e países europeus vinculados à OTAN e a UE. 

          Em 16 outubro de 2016, Djukanovic sofreu uma tentativa de golpe de Estado. Alguns de seus perpetradores foram presos. Alguns membros do grupo eram russos e/ou fugiram para a Rússia. Apesar da grande tensão, Montenegro ingressou na OTAN em abril de 2017

          Voltando à Grécia, o mal-estar com a Rússia causou a debandada do partido Gregos Independentes da coalização governista composta com o bloco Syriza do primeiro-ministro Alexis Tsipras. Uma aliança incomum, dado que o GI é um partido de perfil fascista e o Syriza um bloco de esquerda e extrema-esquerda. 

          Como comentei em duas postagens em junho de 2015 (aqui e aqui), o Kremlin foi um dos responsáveis pela costura desta aliança e considerava Tsipras como um firme aliado da Rússia. Uma lista de fatores vinculavam Atenas a Moscou: o governo eleito em janeiro de 2015 fechou um acordo de vendas de gás com a Gazprom em fevereiro e acertou a extensão do gasoduto Turkish Stream, da mesma empresa, até a Grécia em junho; em 2016, o Syriza votou contra as sanções econômicas da UE contra Moscou no Parlamento Europeu; em 2013, Alexander Dugin esteve na Grécia para uma palestra a convite do futuro ministro grego das relações exteriores, Nikos Kotzias, defendendo fazer da Grécia uma meio de influência da Rússia no bloco europeu, e noutra ocasião sugeriu o nome de Tsipras para o governo grego. 

          Konstantin Malofeev, oligarca promotor da política externa do Kremlin sob sanções econômicas da UE, foi o financiador dos contatos de Dugin na Grécia. Já um dos deputados do Gregos Independentes era presidente de Aliança Grego-Russa, organização voltada à promoção das relações entre os dois países. Tanto Tsipras quanto membros do GI estiveram diversas vezes na Rússia prometendo levantar as sanções econômicas e promover uma aliança com Moscou.      

          Portanto, o acordo da Grécia com a Macedônia não apenas ia contra ao histórico de proximidade entre gregos e russos, como atingiu a coalização governista e os planos do Kremlin para a Europa. Novamente, o pivô de toda a história era o grande adversário russo, a principal barreira às forças do oriente, a OTAN.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Trump, partner of Russia? Ask the Germans

(Consortium Nord Stream AG's headquarters in Zug, Switzerland.)

          According to UK´s The Times, US government has warned German companies that they may be target of US economic sanctions. The cause is participation in Nord Stream 2 project, a 1.200 km gas pipeline accross the Baltic Sea that will double the natural gas import from Russia by Germany. Running alongside the existing Nord Stream, the country could receive up to 111 billions gas cubic meters per year, double its current capacity.

          The 9,4 billion euros project is run by Russia state-owned Gazprom and its promoted by the consortium Nord Stream AG, which has as Chairman of the Shareholders' Comittee German former prime-minister Gerhard Schöreder, Vladimir Putin´s personal friend. The consortium was created in 2005 with aim of constructing this gas pipeline.

          The warning of sanctions was given by the US embassador in Berlim who, according to the report, warned that "companies involved in Russian energy exports are taking part in something that could prompt a significant risk of sanctions", in addition of undermining the security of Ukraine and Europe. A new gas pipeline to Europe would allow Moscow cut off gas supply that passes through Ukraine, country in armed conflict with pro-Russian separatists. 

          In the words of an US official, the Washington´s warning is a "clear message of US policy".

(Nord Stream - in green - and Nord Stream 2 - in yellow dotted.)

          This agrees with what I commented in my last post: Trump administration isn't as close to Russia as it seems. Academic, political consultant and journalist Taras Kuzio, expert in Russian and Ukrainian politics, commented is his Twitter on January 14th that "US threatening German firms building gas pipe shows again that the Trump administration (despite its many idiosyncrasies) is a stronger ally of Ukraine than the EU".

        As expected, Poland and the Baltic States are very troubled with the Russian-German project. The latter consider Nord Stream 2 to be a political, not an economic, project which aims to increase Europe's dependence on Russian gas, and gives to Moscow capacity to politically influence the continent.

          Throughout 2019, however, Angela Merkel denfended the gas pipeline construction, whose position seems to have changed by the ende of the year due many criticism and pressure from supporters, opponents and Western allies. Trump has accused Merkel of being "captive" towards Russians.

          More than the White House's idiosyncrasies and alleged Trump's "collusion" with Russia, the threat to European security comes mainly from the energy dependence from Russia and the cooperation agreements the Kremlin has constructed with various political parties and activists in the continent.            

* Published in Portuguese on January 15th, 2019.

Trump, parceiro da Rússia? Perguntem aos alemães


(Sede do consórcio Nord Stream AG em Zug, na Suíça.)

          De acordo com o jornal The Times do Reino Unido, o governo americano alertou empresas alemãs de que elas podem ser alvos de sanções econômicas dos EUA. A causa é a participação no projeto Nord Stream 2, um gasoduto de 1.200 km através do Mar Báltico que dobrará a capacidade da importação de gás natural da Rússia para a Alemanha. Correndo ao lado do já existente Nord Stream, o país poderá receber até 111 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, o dobro da sua capacidade atual. 

          O projeto de 9,4 bilhões de euros tem como principal empresa a estatal russa Gazprom e é promovido pelo consórcio Nord StreamAG, que tem como presidente do Comitê de Acionistas o ex-primeiro-ministro alemão Gerhard Schöreder, amigo pessoal de Vladimir Putin. O consórcio foi criado em 2005 com o objetivo de construir este gasoduto.

          O alerta de sanções foi dado pelo embaixador americano em Berlim que, segundo a reportagem, alertou que "empresas envolvidas na exportação de energia da Rússia estão participando de algo que poderia levar a um significativo risco de sanções", além de estarem minando a segurança da Ucrânia e da Europa. Um novo gasoduto até a Europa permitiria a Moscou cortar o suprimento de gás que passa pela Ucrânia, país em conflito armado com separatistas pró-Rússia. 

          Nas palavras de um funcionário americano, o alerta de Washington é uma "mensagem clara da política americana".

(Nord Stream - em verde - e Nord Stream 2 - em amarelo pontilhado.)

        Isto vai de encontro ao que comentei em minha última postagem: o governo Trump não é tão parceiro da Rússia quanto parece. O analista, consultor político e jornalista Taras Kuzio, especialista em política da Rússia e da Ucrânia, comentou em seu Twitter em 14 de janeiro que "a ameaça americana às empresas alemãs na construção do gasoduto mostra mais um vez que o governo Trump (apesar de suas muitas idiossincrasias) é um aliado da Ucrânia mais firme do que a União Europeia". 

          Como era de se esperar, Polônia e os Países Bálticos estão muito incomodados com o projeto russo-alemão. Estes últimos consideram o Nord Stream 2 um projeto político, e não econômico, que busca aumentar a dependência do gás russos pela Europa, e dá a Moscou a capacidade de influenciar politicamente o continente.

          Ao longo de 2019, porém, Angela Merkel defendeu a construção do gasoduto, posição que parece ter mudado ao final do ano devido as muitas críticas e pressões de partidários, opositores e aliados ocidentais. Trump acusou Merkel de ser "cativa" em relação aos russos.

          Mais do que as idiossincrasias da Casa Branca e o suposto "conluio" de Trump com a Rússia, a ameaça à segurança europeia vem principalmente da dependência energética da Rússia e os acordos de cooperação que o Kremlin tem construído com diversos partidos políticos e ativistas no continente.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Trump, partner of Russia? Notes on Anne Applebaum´s article

(Trump and Putin at Helsinki summit, on July 16th, 2018.)

          In the last post, I commented on the deepening of the integration between Russia and Belarus, making the later more dependent on Moscow, away from the Western countries. I used as base an article by US journalist and historian Anne Applebaum written in The Washinton Post on January 4th.

          The Applebaum´s text gave reasons for the Western countries to pay more attention to Russia´s moves towards Belarus, which they haven´t done, citing as main example the Trump´s stance. His government would have gave up US´s historical commitment to a united and free Europe (a clear allusion to his scorn for the European Union) and he would be helping to disseminate informations that collaborate for Russian propaganda on many issues, such as events (without specifying them) involving Montenegro and Afghanistan. Trump administration would have given a strange attention to a non-existent invasion plan of Belarus by Poland, for example, widely publicized by Russian media. In Applebaum´s words, the US president is "inclined to see the Russia´s point of view on most issues".

          Following Applebaum´s posts in Twitter, one realizes that the journalist and historian is a harsh critic of Trump. There is nothing unusual and wrong on this, but watching Western analysts by the same media, practically of them are harsh critics, if not mockers, on the US president. This makes more difficult a cold analysis and calls into question the alleged impartiality of the sources.      

          The US stance on Russia is seen as negative when the president addresses directly to the Russian colleague. The analyst see this, with some reason, as a caring and undeserved treatment to Putin. But let´s look at some points: early in Trump´s turn, former US diplomat in the UN, Nikki Halley, firmly stated that the US would not lift the economic sancations against Russia while it don´t give Crimea back to Ukraine. This was also the position of the US president himself. His former Secretary of Defense, Jame Mattis, was a staunch supporter of NATO, military alliance which have been the Kremlin´s main headache for more than 20 years. Furthermore, on April 11th, 2017, Trump supported the Montenegro´s entry into the aliance, and in September 2018 he still considered setting up an American military base in Poland, for displeasure of the Russians. Not only Poland, but the Baltic countries are in favor of the US presence in the region. They knew the Russian domain in Communist times and don´t want it back, nor as a possibility.


(Anne Applebaum)

          If we compare Trump´s action with his predecessor, the opposition to Russia becomes clearer. In September 2009, the Obama government gave up the anti-missile shield project in Europe launched by his predecessor, George W. Bush, on the allegation of a nuclear treat from Iran. It so happens that Iran haven´t nuclear weapons to date. The shield was clearly a defense against Russia. But a similar initiative nowadays would generate a much more aggressive reaction from Moscow, as seen in the military tensions between Russia and NATO in the second half of 2016. Obama also withdrew troops from Iraq in 2011, which would have helped the emergence and expansion of ISIS, now acting only in Syria. On the exit of the Americans from Syria decided by Trump, the impact is much less important even this helps in Russia´s consolidation in the country, whose troops have been acting since September 2015. At the annual press conference in December, Putin made clear that regards Syria as his area of influence. He stated that the presence of the US troops in the country were "illegitimate" and classified their departure as a "right decision". The US, however, continues to have a physical presence in Iraq, maintains the alliance with Saudi Arabia and has strengthened political support of Israel. In the Obama administration, there was significant worsening of the relationships with Saudis and Israelis.   

        Contrasting with the friendly words, Trump hasn´t been so condescending to Putin in fact. By the contrary: NATO´s military strengthening, guaranteeing alliances in the Middle East, and maintaining sanctions against Russia, crucial issues to curb Russia´s projection in the world, restricts the Moscow´s global action. Remains to know whether the new Secretary of Defense, Patrick Shanahan, and the new UN diplomat, a little savvy Heather Nouert (a post temporarily occupied by Jonathan Cohen since January 1st), will follow the same policy.
       
          Criticism such as Anne Applebaum´s are legitimate, but, more important than White House´s speeches and diatribes, the main issue is what is actually happening, de facto policy, mainly in economic and military matters, two of the mais Achilles´ heel of Russia. If Trump is successful in strengthening the US in the long run (the economy is booming, for example), less space will remain for Russia in the international arena. Putin´s plan to re-establish the Russian superpower and re-create its Empire depends, mainly, of taking this post from US. As we saw in the Cold War, the world was too small for two superpowers, and for the Kremlin the Cold War isn´t over.            

* Published in Portuguese on January 10th, 2019.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Trump, parceiro da Rússia? Notas sobre o artigo de Anne Applebaum

(Trump e Putin no encontro em Helsinque, em 16 de julho de 2018.)

          Na última postagem, comentei sobre o aprofundamento da integração entre Rússia e Bielorrússia, tornando este último mais dependente de Moscou e afastando-o dos países ocidentais. Utilizei como base um artigo da jornalista e historiadora americana Anne Applebaum escrito no The Washington Post de 4 de janeiro.

          O texto de Applebaum dava razões para que os países do Ocidente dessem mais atenção aos movimentos da Rússia em relação à Bielorrússia, o que eles não têm feito, citando como principal exemplo a postura de Trump. Seu governo teria abandonado o compromisso histórico dos EUA de garantir uma Europa unida e livre (uma clara alusão ao seu desdenho pela União Europeia) e estaria ajudando a divulgar informações que colaboram para a propaganda russa em diversos temas, como eventos (sem especificá-los) que envolvem Montenegro e Afeganistão. O governo Trump teria dado uma estranha atenção a um plano inexistente de invasão da Bielorrússia pela Polônia, por exemplo, extensamente divulgado pela mídia russa. Nas palavras de Applebaum, o presidente americano está "inclinado a adotar o ponto de vista da Rússia na maioria dos temas".

          Acompanhando as postagens de Applebaum no Twitter, percebe-se que a jornalista e historiadora é uma dura crítica de Trump. Não há nada de incomum ou errado nisso, mas observando analistas ocidentais pelo mesmo meio de comunicação, praticamente todos são duros críticos, quando não debochados, em relação ao presidente americano. Isto torna uma análise fria mais difícil e põe em questão a pretensa imparcialidade das fontes.

          A postura americana em relação à Rússia é vista como negativa quando o presidente americano se dirige diretamente ao colega russo. Analistas vêem isso, com certa razão, como um afago ou tratamento imerecido a Putin. Mas vejamos alguns pontos: logo no início do mandato de Trump, a ex-diplomata americana na ONU, Nikki Haley, afirmou firmemente que os EUA não levantariam as sanções econômicas contra a Rússia enquanto esta não devolvesse a Crimeia à Ucrânia. Esta também era a posição do próprio presidente americano. Seu ex-secretário de defesa, James Mattis, era firme apoiador da OTAN, aliança militar que tem sido a principal dor de cabeça do Kremlin há mais de 20 anos. Ademais, em 11 de abril de 2017, Trump apoiou a entrada de Montenegro na aliança, e em setembro de 2018 ainda considerava a instalação de uma base americana na Polônia, para desgosto dos russos. Não apenas a Polônia, mas os Países Bálticos são favoráveis à presença americana na região. Eles conheceram o domínio russo no período comunista e não o querem de volta, nem como possibilidade.

(Anne Applebaum)

          Se compararmos as ações de Trump em relação ao seu antecessor, a oposição à Rússia fica mais clara. Em setembro de 2009, o governo Obama abandonou o projeto de criação de um escudo anti-míssil na Europa lançado por seu antecessor, George W. Bush, sob a alegação de uma ameaça nuclear do Irã. Ocorre que o Irã até hoje não possui armas nucleares. O escudo era claramente uma defesa contra a Rússia. Mas uma iniciativa semelhante nos dias de hoje geraria uma reação muito mais agressiva de Moscou, como observado nas tensões militares entre Rússia e OTAN no segundo semestre de 2016. Obama também retirou as tropas do Iraque em 2011, o que teria ajudado no surgimento e expansão do Estado Islâmico, agora atuante apenas na Síria. Sobre a saída dos americanos da Síria decidida por Trump, o impacto é muito menos relevante mesmo que isto ajude na consolidação da Rússia no país, cujas tropas atuam desde setembro de 2015. Na conferência anual à imprensa realizada em dezembro, Putin deixou claro que considera a Síria sua área de influência. Afirmou que a presença das tropas americanas no país eram "ilegítimas" e classificou sua saída como uma "decisão correta". Os EUA, porém, continuam com presença física no Iraque, mantém a aliança com a Arábia Saudita e fortaleceram o apoio político com Israel. Na gestão Obama, houve significativa piora das relações com sauditas e israelenses.

          Em contraste com as palavras amigáveis, Trump não tem sido tão condescendente com Putin nas vias de fato. Pelo contrário: o fortalecimento militar da OTAN, a garantia de alianças no Oriente Médio e a manutenção das sanções contra a Rússia, questões determinantes para a contenção da projeção russa no mundo, restringem a ação global de Moscou. Resta saber se o novo secretário de defesa, Patrick Shanahan, e a nova diplomata na ONU, a pouco experiente Heather Nouert (posto temporariamente ocupado por Jonathan Cohen desde 1º de janeiro), seguirão a mesma política.

          Críticas como as de Anne Applebaum são legítimas, porém, mais importante do que discursos e diatribes da Casa Branca, a questão central é o que está acontecendo concretamente, a política de fato, principalmente em questões econômicas e militares, os dois principais calcanhares de aquiles da Rússia. Caso Trump seja bem-sucedido em fortalecer os EUA no longo prazo (a economia americana está em plena expansão, por exemplo), menos espaço restará à Rússia na arena internacional. O plano de Putin de re-estabelecer a superpotência russa e recriar seu Império depende, principalmente, de tirar este posto dos EUA. Como vimos na Guerra Fria, o mundo era pequeno demais para duas superpotências, e para o Kremlin a Guerra Fria não acabou.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Moscow turns to Belarus

(Flags of Belarus and Russia.)

          In her column in The Washington Post on January 4th, Anne Applebaum tries to draw attention to recent moves that Russia has made vis-à-vis its neighbor to the west, Belarus. According to the US journalist and historian, Moscow´s imperial ambition has turned to Minsk, and some of this signals would be the possibility of the Russians take over some services of the Belarussian government as customs, visa, and monetary and tax policies. Such measures would be part of a greater project of integration of the two countries´ economy. 

          The country´s president, Alexander Lukashenka, met Putin on 6 and 25 December and, in a sign of political rapprochement, exchanged public New Year´s congratulation with his colleague. In his message, Putin said that the union between the two countries created by the treaty which established the Union State of Russia and Belarus in 1999 has been a success. Since the crisis in Ukraine in 2014, Lukashenka has distanced himself from Moscow and has tried to design a more independent foreign policy approaching to Europe. Russia, for its part, has sought to avoid distancing of Belarus and consolidate its influence in the surrounding countries. 

          On December 28th, Russian Prime Minister, Dmitri Medvedev, signed a decree that created a committee to work on integration between the two countries. The committee will be chaired by the Russian Economic Development Minister, Maxim Oreshkin. This signs a deepening of the relationship and, consequently, a greater linkage of Belarus to its most powerful neighbor.
   
          As I commented in the end of December, Belarus has given recent signals of detachment from Russia, such as Lukashenka´s statement that he will refer to the neighbour country not as a "fraternal state", but as a "partner", and the statement that no foreign military bases are needed in his country, including Russian ones. He also said that Belarus will never be part of Russia. Moscow´s reaction, therefore, isn´t surprising. As Applebaum recalls, Putin´s popularity is falling, and force demonstrations abroad, such as the wars in Georgia, Ukraine and Syria, renew the Kremlin´s political capital, and reaffirm Russian power to the world.

          Finally, Applebaum recalls that the West has given less and less relevance to Minsk, and this lack of interest could encourage Moscow´s actions in a movement to absorb the neighbouring country. Its not appropriate here to analyze this possibility which has been suggested for some Western experts, but given the Putin government´s history this possibility isn´t null. I refer to the Russian politics reorganization since 2000 with a increasingly centralizing power, the aggressive actions abroad since the Russian president has resumed the post in 2012, and the strong influence of the Eurasian Movement in the military and political elite of Russia which wishes the creation of an imperial power. 

          The country´s current crisis and public discontent with the government´s plan of reforming social security announced, not by chance, during the World Cup are additional factors that could stimulate Kremlin´s actions abroad. Even if Luklashenka says to guarantee otherwise, the lack of strength and economic and energetic dependence on the Russians give him limited room of maneuver.


          Since assuming the presidency on the last day of 1999, Putin has tried to rebuild the Russian power and reestablish its Empire. This indicates the need of gaining not only power, but also terrain. Literally.