sexta-feira, 26 de junho de 2015

Oligarcas, ideólogos e extremistas: a penetração da Rússia na Europa

(Símbolo do Movimento Eurasiano Internacional)

Na medida em que vou vasculhando os personagens da ação russa na Europa vou descobrindo a existência de uma rede de contatos compostas pelos seguintes elementos:

1 - oligarcas russos, responsáveis por financiar e promover grupos de discussão e encontros entre as partes interessadas;
2 - ideólogos russos, responsáveis por promover ideologias pró-Rússia com a finalidade de atrair os países vizinhos à sua esfera;
3 - políticos europeus dos seguintes ramos: a) extrema-direita, b) fascistas, c) extrema-esquerda. Todos eles têm em comum principalmente uma posição crítica quanto à União Europeia (euroceticismo), o papel dos EUA no mundo e na Europa, o capitalismo liberal e, de forma geral, a agenda cultural de liberação dos costumes (casamento gay, aborto, políticas para minorias, etc), com exceção da extrema-esquerda. Por fim, eles nutrem uma simpatia à Rússia e à liderança do país personificada por Putin.
4 - ativistas políticos de caráter nazifascista, comunista, nacionalista e racialista; responsáveis por agir dentro da Rússia e estabelecer contatos com grupos e movimentos europeus, sobre os quais se inspiram.

Os grupos 1, 2 e 4 são formados por pessoas direta ou indiretamente ligadas ao Kremlin, numa relação, no meu entender, de simbiose com o governo russo. Ou seja, não haveria uma controle completo do governo sobre esses grupos, bem como esses grupos não exercem influência de forma a controlar direta o governo de Moscou.

(Alexander Dugin)

O destaque dentro desses atores é o Movimento Eurasiano Internacional, criado e presidido por Alexander Dugin, o intelectual russo de maior influência atualmente. Dugin, como ele próprio já afirmou, não tem pretensões de agir diretamente na política mas conduzi-la desde os bastidores, assessorando, orientando, publicando livros e artigos e disseminando suas ideias através de encontros e contatos dentro e fora da Rússia.

A exemplo dos contatos existentes nesta rede, a penetração e a emergência de movimentos extremistas na Rússia têm origem e inspiração em ideologias e movimentos políticos europeus. Portanto, a Rússia importa tais elementos da Europa para depois voltar-se à (e contra) ela com a finalidade de absorve-la à sua esfera de influência.

Nas próximas semanas detalharei tudo sobre essa rede aqui neste blog.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Duas notas importantes sobre a Grécia

                                                                

                         (Tsipras se encontra com Putin em Moscou, 8 de abril de 2015)                                                                                                             
Na noite de ontem, 22, foi realizada em Bruxelas, na Bélgica, mais uma rodada de negociações para tentar solucionar a grave crise econômica grega. Abaixo duas notas sobre o assunto.

1) Interessante notar o tratamento que a imprensa ocidental e russa dão ao caso. A notícia destacada pelo site da CNN afirma que a "Europa dá uma cautelosa boa-vinda ao plano grego", que prevê reformas econômicas, aumento de impostos e corte de despesas. Segundo Donal Tusk, presidente do Conselho Europeu e que presidiu o encontro em Bruxelas, todas as partes estariam comprometidas com um acordo, que ainda depende de futuras negociações. A notícia destaca o protesto feito no dia de hoje, 23, em frente ao Parlamento grego que pedia para que o país se mantivesse na zona do euro.

Por outro lado, algumas das notícias destacadas pela Sputnik, órgão de mídia russo e fortemente crítico dos países ocidentais, apresenta uma União Europeia na defensiva com relação à crise grega. Uma notícia destaca que a mencionada reunião em Bruxelas acabou sem acordo entre as partes, e destacou os protestos realizados em diversos países europeus no último domingo, 21, que criticavam a pressão econômica dos credores sobre a Grécia. Outra notícia da última sexta-feira, 19, destacava a entrevista de um deputado do Syriza que a saída da Grécia da zona do euro faria mal ao bloco. Já uma terceira notícia destacava a declaração do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo de que a "Europa não é o centro do universo", numa clara crítica à tentativa do Ocidente continuar se prevalecendo economicamente, e destacou o papel da Rússia no mundo.

2) Na medida em que vasculho os pormenores das relações entre Grécia e Rússia tenho algumas surpresas. O ideólogo russo Alexander Dugin não teve contato apenas com membros do Syriza, uma coligação de partidos de extrema-esquerda que atualmente está no poder na Grécia, como ele e seus colegas ativistas teriam contribuído para a aliança entre o Syriza com ninguém menos que o recém-fundado partido de extrema-direita Gregos Independentes. Após as eleições de janeiro deste ano, ambos partidos formaram uma aliança para governar o país. O que eles têm em comum? São críticos do capitalismo liberal, eurocéticos (opõe-se à atual União Europeia) e, acima de tudo, anti-austeridade. Um quarto ponto, não-ideológico mas prático, são os contatos entre membros de ambos os partidos com ativistas russos antiocidentais, entre eles Dugin. Em maio 2014, mesmo após iniciada a crise na Ucrânia, Alexis Tsipras teve um encontro oficial com membros do alto-escalão do governo russo que estava na lista de sanções do Ocidente. Na ocasião, ele declarou que a paz na Ucrânia não seria possível sem a remoção dos elementos nazifascistas daquele governo. Já em setembro, numa votação do Parlamento Europeu para ratificar o Acordo de Associação EU-Ucrânia, todos os seis membros do Syriza votaram contra. E na Grécia, um dos membros do Gregos Independentes e deputado regional fundou em 2001 o Movimento Social Patriótico Aliança Grego-Russa, do qual é chefe, e que busca promover uma maior cooperação entre os dois países.

Outros acontecimentos relevantes ocorreram em janeiro de 2015, mês das eleições na Grécia: na primeira metade do mês um dos membros do GI viajou em visita a Moscou; no dia 23, dois dias antes das eleições, o presidente da Aliança Grego-Russa visitou o consulado geral da Rússia em Thessalonika para negociar a renovação da cooperação entre os dois países; e no dia 26, dia seguinte às eleições, o embaixador russo na Grécia, Andrei Maslov, fez uma visita à sede do Syriza em Atenas.

Com a aliança entre dois partidos abertamente pró-Rússia, sendo o Syriza, segundo Dugin, "anti-atlantista" (leia-se: antiocidental) fica difícil a Grécia se posicionar abertamente contra Moscou. Alexis Tsipras já se manifestou contrário às sanções do Ocidente para com a Rússia, e seu partido, como o mencionado, votou unanimemente contra uma maior integração da Ucrânia à União Europeia, cujo acordo contraria frontalmente os planos de Putin e abre portas para uma futura integração desse país com a OTAN.

Por outro lado, é importante observar que tanto o governo grego como a mídia pró-Rússia não se colocam favoráveis à saída da Grécia do bloco. A mídia tece fortes críticas aos líderes europeus, mas ao mesmo tempo destaca os prejuízos e as insatisfações que uma saída grega causaria à Europa. A exemplo do que comentei na postagem anterior, é interesse russo uma Grécia integrada à UE mas não submetida a ela de forma a permitir que Moscou possa influenciar a política do bloco desde dentro e aproximar os países ocidentais da sua esfera.

Para a Rússia é melhor uma Europa unida e não dividida, mas a seu favor. E contra os EUA.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Grécia e a penetração da Rússia na Europa

(Tsipras se encontra com Putin no Kremlin, em 08 de abril de 2015)

O atual primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, esteve no último Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, na Rússia, ocorrido entre os dias 18 e 20 de junho passado. As lideranças russas e gregas tiveram encontros a respeito da relação energética entre os dois países, particularmente sobre a remessa de gás da Rússia para a Grécia.

Antes de comentar o acordo fechado entre Tsipras e Putin, eu gostaria de relembrar alguns fatos recentes que parecem indicar um comprometimento decisivo da Grécia para com a Rússia.

A relação entre os dois países depois do fim da Guerra Fria foi sempre fundamentada em interesses comuns nos Bálcãs, a integridade territorial dos países da região e nos fundamentos culturais e religiosos comuns (ambos têm população de maioria cristã ortodoxa). Mas desde o início do governo Putin, no último dia de 1999, e principalmente a partir do governo do primeiro-ministro Karamanlis, as relações greco-russas se aprofundaram muito. O grande motivador dessa aproximação está na estratégia energética da Rússia, carro-chefe de sua política externa, e na intenção grega de aproximar-se de seu parceiro histórico e de fazer um contrapeso geopolítico com sua rival na região, a Turquia, aproveitando-se das divergência entre turcos e russos sobre os conflitos no Cáucaso.

O principal elo concreto entre Grécia e Rússia são os projetos de gasodutos e oleodutos que atravessariam e também abasteceriam a população grega. Tais projetos funcionam como tentativas da Rússia de influenciar a política europeia através da Grécia.

Um desses projetos foi o Oleoduto Burgas-Alexandroupolis, planejado a partir de janeiro de 2005 e oficialmente colocado em prática a partir da assinatura dos acordos em março de 2007 em Atenas. Um dos seus construtores era a estatal russa de energia Gazprom, que controlava 51% dos recursos do projeto. Este gasoduto seria o primeiro na Europa controlado pela Rússia. A participação da Bulgária na construção do oleoduto, porém, foi suspensa em 2011 devido à alegação de problemas ambientais.

Uma alternativa russa ao projeto abortado seria transportar petróleo da região produtora do Mar Cáspio não mais por duto, mas por navio, através do Mar Negro, passando pelos Estreitos de Dardanelos e Bósforo, até chegar a Europa pelo Mar Mediterrâneo. Mas a Turquia, que também buscava rotas de distribuição de petróleo da mesma região passando pela Geórgia (país aliado do Ocidente), impediu que foi feito o trânsito de navios alegando razões ambientais.

Ao contrário do que o governo grego esperava, a construção do mencionado oleoduto não daria grandes vantagens geopolíticas ao país. Na época, a Rússia já negociava com a Sérvia a construção de um outro duto, dessa vez de gás, que atravessaria o Mar Negro em direção à Bulgária e, daí, para a Sérvia até a Áustria. O chamado South Stream colocaria a Grécia em segundo plano e diminuiria sua margem de negociação com a Rússia, tornando-a mais dependente desta. Ademais, como membro da União Europeia, a Grécia precisaria equilibrar suas políticas entre a Rússia e os acordos firmados com seus parceiros europeus dentro do bloco.

Somando a dependência energética da Grécia em relação a Rússia, os efeitos da crise financeira global de 2008 e a atual grave crise econômica grega chegamos ao panorama atual.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras, vencedor das eleições gregas no final de janeiro deste ano, tem buscado uma maior aproximação com a Rússia apesar da profunda animosidade criada entre russos e europeus devido à crise na Ucrânia. Ainda em 2013 no governo Antonis Samaras, anterior a Tsipras, foi lançado um pacote de privatizações que incluía a venda da DEPA, empresa estatal grega de energia. A intenção inicial era levantar 2,6 bilhões de euros em vendas dessa e de outras estatais naquele ano (quase nada perto dos 240 bi de euros em dívidas). A Gazprom ofereceu pela DEPA 900 milhões de euros (U$ 1,2 bi), oferta muito acima das demais concorrentes. O problema é que no dia 10 de junho a empresa russa subitamente suspendeu a compra, provavelmente devido à pressão europeia e americana que temiam o envolvimento russo no mercado europeu.

Com a perda da venda da DEPA, continuaram as negociações para reduzir o preço do gás. A situação grega piorou muito em 2014: com a grave crise econômica a população e a já enfraquecida indústria pesada do país reduziram o de gás em 35%. Como o acordo entre os dois países exigia uma cota mínima de gás a ser comprada, a Grécia teria de pagar uma penalidade de 100 milhões de euros caso não cumprisse esta cláusula. Foi o que aconteceu. Durante as negociações, a cláusula "pegue-ou-pague" gerou uma batalha judicial entre o governo grego e a Gazprom. Mas um novo acordo em fevereiro de 2015 entre o recém eleito governo de Tsipras e a empresa russa, responsável pela venda de 90% do produto consumido na Grécia,  permitiu uma diminuição de 15% na compra do gás.

Na política, uma das primeiras ações de Alexis Tsipras como primeiro-ministro foi, além de anunciar a suspensão do programa de privatizações de Samaras, fazer uma visita de chefe de estado à Rússia. Tsipras e Putin se encontram no dia 8 de abril deste ano em Moscou. Na ocasião, ele buscou renegociar o preço do gás russo, e pediu para que se encerre o "ciclo vicioso de sanções" do Ocidente contra a Rússia na esteira da crise na Ucrânia argumentando que elas afetam a já debilitada economia grega. Mas as sanções também dizem respeito à Rússia, que se vê politicamente mais isolada devido ao envolvimento no conflito no país vizinho. Um levantamento das sanções beneficiaria tanto gregos quanto russos. O problema é que tal atitude não apenas agrada a Moscou como também cria preocupação na União Europeia.

O resultado da visita de Tsipras surgiu dia 19 de junho passado no recém realizado fórum econômico em São Petersburgo: um novo projeto de gasoduto, conhecido como Turkish Stream e assinado entre a Rússia e a Turquia seis dias antes, será estendido da Rússia à Grécia através do território turco. Esse acordo se tornou uma compensação pelo cancelamento da construção do oleoduto Burgas-Alexandroupolis em 2011 e também do gasoduto Southern Stream, que passaria da Rússia à Bulgária pelo Mar Negro sem chegar à Grécia.


Cabe notar que o Turkish Stream é o gasoduto rival do Southern Corridor apoiado pelos países ocidentais, que se origina no Azerbaijão até a Turquia. Neste país o projeto se bifurca com uma passagem pela Grécia até a Itália, e outra a qual se conecta com um projeto ocidental, o gasoduto Nabuco West, que corre desde a Bulgária até a Áustria.

A nova realidade política grega aprofunda o comprometimento do país com a Rússia e, por consequência, exige esforços políticos e diplomáticos maiores para não desagradar os parceiros europeus ou comprometer os acordos do bloco. A adesão da Grécia ao projeto de gasoduto russo-turco coloca o país num jogo duplo, porque, apesar de garantir combustível, cria uma parcial solução ao seu problema financeiro energético ao mesmo tempo em que abre um importante e decisivo mecanismo de influência da política externa russa dentro da União Europeia. Este projeto é maior evidência do comprometimento da Grécia com a Rússia, já que o governo grego adere a uma proposta energética rival a do Ocidente.

A influencia russa, porém, deve ser ainda mais profunda. Membros do partido Syriza mantém contato com oligarcas e ideólogos russos em reuniões secretas. Em 12 de abril de 2013, ideólogo russo Alexander Dugin realizou uma palestra sobre política internacional e eurasianismo na Universidade de Piraeus a convite de Nikos Kotzias, então professor de Ciência Política na Universidade e atual ministro das relações exteriores do governo Tsipras. Na ocasião, Dugin sugeriu que a Grécia deveria permanecer na União Europeia para promover a política externa russa no bloco. Uma outra palestra foi realizada no mesmo dia na Universidade Panteion sobre a geopolítica russa. Ainda em 2013, Dugin também trocou mensagens com um dos membros do Syriza onde ele mencionou o nome de Alexis Tsipras numa lista de membros que, nas suas palavras, poderiam participar de "iniciativas de natureza pró-russa" dentro da Grécia. Segundo o pesquisador Anton Shekovtsov, muitos dos contatos de Dugin na Grécia foram promovidos pelo oligarca Konstantin Malofeev, o mesmo que patrocinou um encontro secreto em Viena, na Áustria, entre Dugin, extremistas russos, líderes da extrema-direita e fascistas europeus em 31 maio de 2014. Por promover a ação de grupos extremista no conflito na Ucrânia, Malofeev foi alvo de sanções por parte da Europa e dos EUA.

(Kotzia na ponta esquerda; Dugin ao centro)

A penetração russa na Grécia provavelmente terá novos capítulos. É importante verificar com calma não apenas a influência geopolítica e estratégica da Rússia na Europa através da Grécia, mas principalmente a antessala dessa penetração organizada em de contatos pessoais e reuniões secretas. Voltarei a essas questões num momento oportuno.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Sonhos messiânicos: a conquista da Eurásia, do espaço e do Ártico



A Rússia é o maior país do mundo em extensão territorial e inclui, além dos russos étnicos, muitas dezenas de etnias organizadas em uma grande federação, ao menos oficialmente.

A vastidão geográfica da Rússia é objeto de muitos estudos e reflexões dos intelectuais de seu país. Desde o século XIX, foram desenvolvidas algumas correntes de ideias que relacionam a geografia da Rússia e o seu destino enquanto povo. Marlene Laruelle, professora e pesquisadora do Instituto para Estudos Europeus, Russo e Euroasiáticos da Universidade George Washington, nos EUA, publicou em 2012 um artigo que trata das chamadas metanarrativas, discursos que anunciam a predestinação do povo russo à conquista territorial e à realização de um ideal futuro.

Esses discursos permeiam atualmente a cultura russa e expressam o senso messiânico de sua elite intelectual. No artigo de Laruelle, as metanarrativas destacadas baseiam-se na expansão geográfica da Rússia em três vetores distintos: para a Eurásia, para o espaço e para o Ártico. São vetores de expansão para além de suas fronteiras atuais em direção aos povos vizinhos, ao alto e ao norte. São os chamados eurasianismo, cosmismo e articismo.

Os três discursos se difundiram de forma discreta durante o período soviético e ganharam forte impulso no período pós-comunista, quando se multiplicaram estudos que passaram a explicar as questões políticas não mais pela ótica do materialismo marxista, mas pela cultura e a civilização. Esses conceitos trouxeram à tona novas análises sobre a relação dos povos da Eurásia com sua geografia local. Seria a relação entre o povo e seu meio físico causa de sua cultura única. Além do livro O Choque de Civilizações, do americano Samuel Huntington, que foi grande sucesso de vendas na Rússia, duas obras do cientista político Alexander Panarin, The Revenge of History e The Ortodox Civilization in Globalized World se tornaram referência no estudo da cultura/civilização. A perspectiva civilizacional afirma que as diferenças entre os povos são, em última instância, culturais, e que suas culturas são incompatíveis umas com as outras. Os conflitos, portanto, têm raíz cultural, e não política ou econômica. Da mesma forma os modelos políticos e econômicos não poderiam ser implantados de forma unívoca em culturas diferentes.



Na metanarrativa eurasiana, cabe à Rússia rejeitar o modelo ocidental e criar o seu meio de desenvolvimento através da integração dos territórios vizinhos "destinados" a pertencer à esfera russa. O modelo russo seria "imperial", de ênfase aos direitos coletivos (das nações), ao passo que o modelo ocidental é "republicano", baseado nos direitos individuais. O eurasianismo ganha um discurso mais agressivo com Alexander Dugin, que remodela os fundamentos do eurasianismo clássico dos russos emigrados da década de 1920. Sua afirmativa é de que não é a geografia, mas  a geopolítica que determina o papel da Rússia no mundo. Utilizando os clássicos da geopolítica europeia, correntes nazifascistas, estudos das religiões e ocultismo, Dugin afirma que a Rússia é o "centro" do mundo, o núcleo civilizacional das potências terrestres (terulocracias) em oposição às potências marítimas (talassocracias), cuja disputa remonta à Antiguidade. A missão da Rússia seria vencer as potências marítimas, comandadas pelos EUA, e assumir a liderança do mundo a partir da Eurásia.



Na metanarrativa cósmica, o futuro da Rússia estaria não na Terra, mas na conquista do espaço. O cosmismo combina predestinação com tecnologia e imortalidade. Ao invés da ascensão do homem para o Céu, onde há vida eterna, é na ascensão e na conquista do espaço físico que o ser humano, através do apoio tecnológico e em novas condições de vida, teria capacidade de se livrar do sofrimento e alcançar a imortalidade. Segundo alguns de seus ideólogos, os russos são um povo profundamente espiritual e tendem à verticalidade, na busca de Deus, às coisas Alto, em contraste com os ocidentais, muito materialistas e com tendência à horizontalidade. O cosmismo se caracteriza, portanto, por uma projeção de missão religiosa dos russos no mundo imanente. Essa mentalidade permeou os meios científicos soviéticos que buscaram realizar a utopia da conquista espacial e ao mesmo tempo vencer os EUA nessa corrida. Atualmente, o cosmismo é presença marcante no imaginário social do povo russo, como nas obras da literatura.



Na metanarrativa articista cabe à Rússia a conquista do Ártico. Tal perspectiva é comum entre os nacionalistas russos, que herdaram a concepção de Ártico Vermelho dos tempos soviéticos, e que marcou profundamente a cultura popular. O sonho messiânico é conquistar um região hostil, utilizando recursos e meios que só os russos seriam capaz de mobilizar. Os nacionalistas consideram o domínio da região ártica como necessária para reestabelecer a grandeza da Rússia e compensar a perda territorial do sul com o fim da URSS. Outro fundamento para o articismo está no ocultismo e no racialismo. Dugin, por exemplo, afirma que o povo russo é o descendente mais puro dos arianos e atualmente estariam formando uma nova civilização cujo destino é o domínio do Ártico. A disseminação do arianismo e do neo-paganismo contribuem para reforçar a marcha para o norte já que consideram os eslavos e sua antiga cultura pagã descendente dos arianos. Após o fim da URSS, a historiografia russa, a educação e o imaginário popular foram inundados pela concepção racial e neo-pagã da história antiga, e seu conteúdo têm sido utilizado por movimentos nacionalistas de corte racial e xenófobo para fazer oposição à presença dos "povos de cor" na Rússia, como os habitantes do Cáucaso e os chineses.

Por fim, é importante frisar que as três metanarrativas aqui descritas estão relacionadas à modernidade, mais especificamente ao avanço técnico: à integração econômica no eurasianismo, ao avanço aero-espacial no cosmismo e a utilização de recursos naturais no articismo. Laurelle não menciona explicitamente, mas convém notar que os três movimentos buscaram se concretizar na antiga URSS. Os comunistas realizaram, ao mesmo tempo, a expansão territorial pelo planeta, a conquista do espaço e a exploração do Ártico. Se o messianismo comunista falhou nos seus objetivos finais e na realização plena de uma "sociedade ideal", a Rússia parece que continua impreganada e determinada a fazer valer a missão que diz pertencer a ela. Agora é o eurasianismo que busca afirmar-se, mas numa Rússia em crise econômica e cada vez mais hostil ao restante do mundo.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Moldávia: pivô de uma nova investida russa?


(Edifício do governo em Chisenau, capital da Moldávia.)


Desde o dia 8 de junho passado o consulado da Rússia na Transnístria, região da Moldávia no leste europeu, tem facilitado à população local a aquisição da dupla cidadania russa. O resultado foi uma corrida em massa para os locais de registro.

A minúscula Transnístria, junto à fronteira da Ucrânia, possui um movimento separatista com um parlamento próprio e uma independência de facto, mas não de júri. É um conflito até o momento sem solução, cuja situação está estagnada.


(Parlamento da Transnístria em Tiraspol.)


A crise na Ucrânia tem reavivado tensões sobre o movimento separatista na Transnístria. O movimento declarou formalmente independência de seu território do governo central da Chisenau, em 16 de abril de 2014, pouco depois da anexação da Crimeia pela Rússia, e pediu uma anexação formal ao território russo. No dia seguinte, o primeiro-ministro moldavo visitou o recém constituído governo ucraniano na expectativa de revigorar a relação entre os dois países e discutir uma maior integração com a União Europeia. A anexação da Transnístria pela Rússia não foi feita até o momento.

Para a Rússia é importante que a situação fique como está. Primeiramente, porque uma tensão interna na Moldávia dificulta uma aproximação deste país com a União Europeia. Autoridades russas já disseram que, caso o pequeno país decida integrar-se ao bloco europeu, ele irá perder a Transnístria. Com a situação pendente Moscou se utiliza do movimento separatista para interferir nas tentativas de aproximação da Moldávia com a Europa. Mesmo assim o governo de Chisenau assinou um Acordo de Associação com a UE, que prevê uma série de graduais reformas políticas e econômicas a fim de se associar com o bloco. As negociações do acordo contaram também com a presença das autoridades transnístrias a convite do governo moldavo na expectativa de desestimular o movimento de independência . Por outro lado, o governo russo não tem interesse em separar a Transnístria e/ou incorporá-la ao seu território. Isso poderia abrir um precedente para que outros movimentos separatistas dentro da Rússia, como na Chechênia e na Inguchétia, também lutassem por independência. Além do mais, Rússia e Transnístria não possuem fronteira, e parte da comunicação depende do trânsito pelo território da Ucrânia. O resultado é uma posição intermediária onde o movimento separatista não alcança a plena independência ao mesmo tempo em que Moscou se utiliza dele para interferir na política moldova.

Com o aumento da expedição de dupla cidadania, a população "russa" na Moldávia começa a crescer legalmente. A ação russa pode ser uma resposta da proibição, por parte do governo ucraniano, de proibir a dupla cidadania a seus habitantes, provavelmente uma forma de evitar a "multiplicação" de russos em seu território. A mesma reportagem destacada no primeiro parágrafo também traz informações a respeito do tratamento que a imprensa pró-Moscou na Moldávia e na Ucrânia dá ao assunto. Segundo a fonte, essa imprensa afirma que a Ucrânia tem aumentado a tensão na província de Odessa, que faz fronteira com a Moldávia, através do suposto alocamento mísseis de defesa na região com a finalidade de se preparar para uma guerra. O governador de Odessa é ninguém menos do que o ex-primeiro ministro da Geórgia, Mikhail Saaskashvilli, que governou este país durante a curta guerra com a Rússia, em 2008, e é um duro crítico do governo de Moscou. O aumento de uma população "russa" na Moldávia obrigaria a Rússia a criar laços mais íntimos com este país através da mencionada província ucraniana. É de conhecimento público as declarações do presidente Vladimir Putin a respeito do dever de seu governo de proteger as comunidades russas que estejam sob ameaça no exterior. 


Ao mesmo tempo em que a Rússia pressiona e intervém diretamente no leste da Ucrânia, agora ela age indiretamente no se flanco oeste. Resta saber como o Ocidente reagirá a essa situação caso haja o crescimento das tensões, grandemente insufladas pela mídia pró-Moscou. A crise na Ucrânia resultou em uma enxurrada de notícias e análises acadêmicas a respeito da reconfiguração da segurança regional do Leste Europeu e das relações entre Rússia, OTAN e União Europeia. A Moldávia seria um país pouco lembrado por russos e ocidentais caso não estivesse no miolo geográfico de uma tensão que envolve todos os seus grandes vizinhos.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O proveito de Putin e a cautela de Francisco


O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma viagem à Itália no mesmo período em que ocorria a reunião anual do G7 na Alemanha, do qual foi excluído pelo segundo ano consecutivo. Sua visita a este país serviu para mostrar aos líderes ocidentais de que não está totalmente isolado, a exemplo de uma relação mais amistosa e frutífera com os italianos. O ponto alto da viagem de Putin, porém, foi sua visita ao Papa Francisco, no dia 10 de junho. O encontro foi o segundo entre os dois líderes (o primeiro ocorreu em novembro de 2013).

O importante aqui é ver como o Vaticano se posiciona quando se trata do tema Rússia e como a crise na Ucrânia torna ainda mais sensível as relações entre a Santa Sé e os cristãos do leste.

A visita de Putin a Francisco foi precedida horas antes pela declaração do embaixador dos EUA no Vaticano, Kenneth Hackett, de que o Papa deveria ter uma postura firme (leia-se: condenar) à respeito do papel da Rússia na crise na Ucrânia e na defesa da integridade territorial deste país. A declaração causou reação do governo russo que, pelo seu porta-voz Dmitry Plekov, disse que o pedido americano é uma interferência explícita na soberania dos outros países.

Numa atmosfera cercada seriedade, Putin encontrou o Papa, que o esperava por uma hora sem sua característica jovialidade. Foram 50 minutos de conversa às portas fechadas. A discussão, divulgada por uma comunicado da Santa Sé através de seu porta-voz (inglês) girou em torno da situação na Ucrânia, como a necessidade de garantir maior ajuda humanitária às vítimas da guerra, e o cumprimento do Acordo de Minsk; e do Oriente Médio, principalmente a perseguição aos cristãos na Síria e no Iraque, tema frequentemente mencionado pelo Papa em outras ocasiões.

A questão que fica é: por que Francisco não foi duro na condenação da interferência da Rússia na Ucrânia? Penso que o envolvimento russo no país vizinho e sua proximidade histórica com a Igreja Ortodoxa Russa coloca o Vaticano numa situação extremamente delicada. Uma crítica firme à atitude russa poderia ter consequências num tema muito caro à Igreja Católica: a reaproximação com os ortodoxos. Uma posição explícita do Papa poderia implicar numa partidarização do conflito ucraniano dando contornos religiosos à uma guerra que possui razões ideológicas e geopolíticas, e não religiosas, o que contribuiria para o aprofundamento da divisão entre católicos e ortodoxos. Como pontífice, é missão de Francisco restaurar a unidade entre os cristãos, visto pela Igreja de Roma como um "escândalo".

A atitude do Papa causa reações distintas entre católicos e ortodoxos. Líderes católicos ucranianos, por exemplo, veem criticamente a não condenação da ação russa pela Santa Sé, e ao mesmo tempo alguns líderes ortodoxos russos, como o patriarca Kirill, metropolita de Moscou, e o próprio Putin, expressam admiração pela posição cautelosa de Francisco à respeito da Ucrânia.

Se Francisco não pode (e não deve) tomar partido na crise na Ucrânia, Putin aproveita a situação para driblar o isolamento político liderado pelo G7 e fazer uma defesa diplomática de valores "conservadores" e dos cristãos perseguidos pelo mundo. A inflexão nacionalista e "eurasiana" da Rússia a partir da década de 2000, especialmente no atual mandato de Vladimir Putin, tem, a exemplo da mencionada Itália, se refletido em tentativas de cooptar simpatizantes no Ocidente. A pressão dos EUA sobre o Vaticano por via diplomática é uma reação pontual mas clara ao projeto russo. Se o Papa tem a missão se unir os cristãos aproveitando-se, de forma consciente ou não, dessa inflexão russa, por outro lado a Rússia volta-se ao Ocidente não para aceita-lo enquanto tal, mas integrá-lo no seu projeto global e subordina-lo, a longo prazo, à sua liderança.

domingo, 14 de junho de 2015

Guerra de dutos

 (Putin e Endorgan no Azerbaijão)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Endorgan, tiveram um encontro no dia 13 de junho em Baku, capital do Azerbaijão, para tratar de algumas questões pertinentes aos dois países. Uma delas foi a negociação para a construção conjunta do gasoduto Turkish Stream. Tal projeto vem a substituir o antigo, South Stream, que foi suspenso segundo a imprensa russa por pressão do Ocidente. O novo gasotudo está previsto para sair do litoral russo do Mar Negro até a Trácia, região que abrange a Turquia europeia e parte da Bulgária.

Sobre o projeto, o ministro da Energia e Recursos Naturais da Turquia, Taner Yildiz, afirmou que a posição dos países ocidentais a respeito do projeto do Turkish Stream é "estranha", "inconsequente" e "ilógica", já que a Europa necessita do gás russo. Era de se esperar que tal o projeto mencionado causasse desconforto aos ocidentais ou, pelo menos, que esse desconforto fosse destacado pelos veículos de comunicação russos.

A dependência da União Europeia do gás russo (ver pág. 35-38), especialmente dos países de sua porção oriental, é enorme. Em torno de 1/3 do suprimento do gás do bloco vem da Rússia. Sua principal empresa de fornecimento de gás, a Gazprom, comandada e financiada por lideranças do governo russo, tem mais da metade de suas vendas para o grupo europeu. Essa dependência é vista pela Europa e os EUA como um obstáculo ao aprofundamento das relações transatlânticas e uma trunfo político da Rússia sobre o Ocidente, que se utiliza do gás como forma de pressionar os governos dos países dependentes. Em 2006, por exemplo, uma crise política entre Rússia e Ucrânia à respeito de preços do produto deixaram países da Europa Oriental sem fornecimento por dois dias no inverno; em 2009 uma crise similar, também no inverno, atingiu duramente os países dos Balcãs, durante três semanas. Na ocasião, a crise foi resolvida por pressão da União Europeia, que ameaçou reavaliar os acordos comerciais com os dois países (ver pág. 10).

Há um projeto rival proposto pela União Europeia, chamado Southern Corridor, que é combatido politicamente pela Rússia. Tal projeto é visto por Moscou como uma ameaça à sua liderança de fornecimento energético para a Europa Oriental e países vizinhos da Ásia. Um dos planos europeus é o Projeto Trans-Caspiano e outros similares que preveem a construção de gasodutos da Ásia Central até a Europa através do Mar Cáspio. Na lógica do trunfo estratégico, a criação dessa infraestrutura daria ao Ocidente uma maior margem de manobra sobre a região e diminuiria o pressão da Rússia nas negociações de segurança energética e de preços (ver pág. 35-38).

Outra questão que envolve a segurança energética (e militar) é a aproximação entre o Azerbaijão e o Ocidente através de negociações com a OTAN, devido ao envolvimento desta última no Afeganistão, e de dois projetos de gasodutos que ligam o território azeri ao sul da Europa. A questão ganhou relevância com a crise na Ucrânia, já que a construção desses gasodutos passaria por este país sem adentrar o território russo, permitindo a venda de gás para os ucranianos. Esses projetos diminuiriam a pressão econômica de Moscou sobre Kiev.

Por fim, um acordo entre Rússia e Turquia a respeito do gasoduto pode ser sinal de uma inflexão turca para o norte. A crescente influência do governo russo através do Movimento Eurasiano Internacional é uma tentativa de fazer da Turquia um aliado de Moscou e um adversário do Ocidente, cortando-lhe o acesso ao restante da Ásia por terra. O fiel da balança, que fica naquilo que Samuel Huntington chamou de "esquina do mundo", têm sido alvo do assédio político e econômico da Rússia. Uma melhora nas relações entre a Turquia e os países ocidentais seria de fundamental importância segurar as pretensões de uma aliança eurasiana antiocidental liderada por Moscou.

sábado, 13 de junho de 2015

Agência russa (ou eurasiana) Sputnik

Acabo de colocar com uma das referências de informações desse blog a agência russa de notícias Sputnik, que tem notícias em português além de outras 28 línguas.

Não devemos, porém, observar essa agência com ingenuidade ou pureza de intenção. Na página de apresentação, a Sputnik apresenta-se como uma marca de mídia "alternativa" (leia-se: não ocidental) e que contribui ao apontar "o caminho para um mundo multipolar que respeita os interesses nacionais, cultura, história e tradições de cada país". Essa linguagem e o tom crítico aos EUA e o Ocidente nas suas chamadas de notícia são reveladoras da influência da doutrina eurasiana na sua atividade.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Nova Guerra Fria à vista?

No atual momento político da Rússia é notória a influência do filósofo (e ideólogo) Alexander Dugin, cujas atividades intelectuais e políticas abrangem um gigantesco espectro de correntes políticas e filosóficas distintas. O pesquisador do Instituto de Cooperação Euro-Atlântica, Andreas Umland, atualmente vivendo em Kiev, na Ucrânia, tem reiterado constantemente os papel e a ameaça representada pelas correntes lideradas e influenciadas por Dugin, como o Movimento Eurasiano Internacional (MEI), fundada por este último.

Nos dois artigos a seguir, Umland destaca as tendências fascistas na Rússia e analisa a atuação da extrema-direita nos círculos intelectuais. No primeiro, Fascist Tendencies in Russia´s Political Establishment: The Rise of International Eurasian Movement, de 2009, Umland resume brevemente a asceção pública de Dugin, mostrando como os membros do MEI penetraram e ocuparam postos de grande importância nos meios político, militar e midiático da Rússia, do chamado "exterior próximo" e mesmo de países asiáticos e europeus. Também apresenta as referências públicas (e por vezes elogiosas) de Dugin acerca do fascismo europeu e do braço esquerdo do nazismo (depois eliminado por Hitler). No segundo artigo, New Extreme Right-Wing Intellectual Circles in Russia: The Anti-Orange Committee, the Isborsk Club and the Florian Geyer Club, de 2013, Umland mostra como a escalada do discurso anti-ocidental e antiamericano ganhou força na Rússia, principalmente no atual governo Putin iniciado em 2012. Esse discurso cresceu dentro daquilo que o autor denomina de Organizações Não-Governamentais Governamentais-Organizadas (ONGGO, ou CONGO em inglês), que agem na sociedade civil, porém são comandadas e/ou influenciadas pelo Kremlin através de membros-chave do establishment, como políticos e intelectuais. Um desses membros é Dugin, cujas ideias "eurasianas" foram promovidas e incorporadas pelo establishment russo através da Universidade Estatal de Moscou (de onde Dugin foi demitido em 2014).

O mais interessante, porém, são os alertas que Andreas Umland dá no fechamento de ambos artigos: no primeiro ele destaca a emergência de uma provável nova Guerra Fria caso os planos de Dugin e do MEI sejam levados à cabo; no segundo ele conclui que o crescimento de uma opinião pública hostil aos EUA e o Ocidente devem piorar ainda mais as relações entre esses e a Rússia. No cenário mais pessimista a congruência de ambos os fatores seria uma enorme dor de cabeça para o Ocidente e para o mundo.

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Para ver Fascist Tendencies in Russia´s Political Establishment: The Rise of International Eurasian Movement acessar: www.css.ethz.ch/publications/pdfs/RAD-60-13-17.pdf

Para ver New Extreme Right-Wing Intellectual Circles in Russia: The Anti-Orange Committee, the Isborsk Club and the Florian Geyer Club acessar: www.css.ethz.ch/publications/pdfs/RAD-135-2-5.pdf.
 

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Inauguração

Seja bem-vindo ao meu blog. O que eu pretendo aqui não é expressar minhas opiniões, mas fazer desse espaço referência de informações sobre a Rússia, país esse que mostra-se tão belo, exótico e misterioso aos olhos dos brasileiros. Acontecimentos, eventos, ideias, movimentos políticos, econômicos e militares, muito disso estará aqui.

A Rússia é um país que me fascina por diversas razões, como sua vastidão geográfica e cultural, a multiplicidade de nações dentro de um mesmo território, seu peso e importância para o mundo, sua história de decisões (para o bem ou para o mal) que foram determinantes para os rumos da humanidade e pelo senso messiânico mais ou menos difuso entre os russos. Ao mesmo tempo, eu sou uma pessoa ligada a temas amplos, como paz, guerra, História Geral, geopolítica, sentido da vida, religiões, Deus e demais temas de ordem global e existencial. Talvez por isso eu tenha fascínio pela Rússia. Temos traços que aos meus olhos são comuns.

Fascínios à parte, porém, reafirmo que este é um espaço sério, e é justamente devido à minha paixão pela Rússia que eu pretendo fazer deste trabalho uma referência confiável para muitas pessoas.

Deus abençoe a todos.

Marcos Boldrini