quarta-feira, 15 de junho de 2016

Os desafios da Europa para colocar "Putin em seu lugar"

(Ex-primeiro-ministro da Bélgica, atual eurodeputado da Aliança de Liberais e Democratas pelo Partido Europa e líder da ala liberal do Parlamento Europeu, Guy Verhofstadt)

Dois artigos escritos pelo ex-primeiro-ministro da Bélgica (1999-2008), Guy Verhofstadt, buscam razões pelas quais a Europa deveria agir de forma firme contra as ações do Kremlin no continente.

No primeiro artigo, de fevereiro deste ano, intitulado Colocando Putin em seu lugar, Verhofstadt enumera seis crises que estão abalando a Europa em 2016: o caos regional causado pela guerra na Síria, a possível saída do Reino Unido da União Europeia, o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra, os desafios econômicos ainda não resolvidos, o expansionismo russo e o retorno do nacionalismo ao centro da agenda política.

O autor comenta que Putin tem exacerbado pelo menos quatro destas crises, à exceção da guerra na Síria e dos problemas econômicos da Europa. Não é nenhuma surpresa para os europeus que existe uma estratégia de penetração da Rússia no continente. Esta estratégia tem buscado cooptar aliados políticos da extrema-direita, extrema-esquerda e nacionalistas extremados com suas agendas anti-UE e pró-Rússia, manter o fluxo de dinheiro fácil para seduzir políticos e empresário, apoiar a campanha pela saída do Reino Unido do bloco e mais recentemente aumentar do fluxo de refugiados através da campanha militar na Síria. Segundo um general de alta patente da OTAN, os russos bombardearam áreas civis neste com a intenção deliberada de deixá-los sem local de moradia e engrossar a massa em fuga. A chegada destes imigrantes aquece o debate sobre a crise dos refugiados e reforça o apoio do eleitorado aos nacionalistas europeus anti-imigração e aliados de Putin.

(Tensões e desacordos entre Europa e Rússia: uma relação complicada.)

No segundo artigo, do mês de junho, intitulado Não apazigue Putin, o ex-primeiro-ministro não pede apenas que a Europa não afrouxe as sanções econômicas contra a Rússia no contexto da crise na Ucrânia, mas as aumente. A diminuição das sanções estaria condicionada pela retirada das tropas russas da Ucrânia conforme o primeiro Acordo de Minsk em 2014. Mas o acordo não foi cumprido. Ademais, alguns diplomatas e líderes europeus da Itália, Hungria, Grécia, Chipre e Alemanha preferem afrouxar as sanções. O artigo também comenta que o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, estarão presentes como convidados no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, uma versão russa do Fórum Econômico Mundial em Davos. Seria uma estratégia da Rússia para mostrar ao mundo o lado diplomático e menos agressivo do país ao mesmo tempo em que ele age militarmente no leste da Ucrânia. Sobre diplomacia continental, Verhofstadt diz que a política de expansão da UE tem falhado. Seu soft-power não tem sido forte o suficiente para competir com a postura assertiva do Kremlin.

Verhofstadt também alerta sobre a dificuldade dos europeus de estabelecer uma política de defesa comum, segundo ele um erro. Na OTAN alguns países estão gastando menos de 2% do PIB em defesa, proporção mínima requerida por seus membros. O autor vê um potencial governo de Donald Trump nos EUA como um problema para a defesa do continente, já que o pré-candidato republicano tem criticado a falta de comprometimento financeiro dos membros para com a OTAN, recaindo seus custos sobre os americanos.

(Estratégia de Putin: penetração e desintegração da Europa para uma aliança pró-Rússia e anti-EUA.)

A estratégia do Kremlin de penetração, enfraquecimento e mesmo desintegração da União Europeia não é nenhuma surpresa para acadêmicos e jornalistas europeus. Seu objetivo é atrelar o continente à sua esfera de influência numa aliança anti-EUA. Parece que Guy Verhofstadt conseguiu abranger em poucas linhas toda a estratégia russa para alcançar este objetivo. Eu acredito, porém, que a manutenção ou o aumento das sanções contra a Rússia são necessárias, não tanto por sua eficácia, mas acima de tudo como uma firme posição política que tente colocar "Putin em seu lugar". Mas a luta é muito mais longa e complicada: perpassa o combate aos canais de financiamento a aliados, a propaganda oficial russa através dos meios de comunicação e, acima de tudo, o aliciamento de líderes políticos, intelectuais, ideólogos e militantes capazes de inverter o eixo geopolítico da Europa do Atlântico para a Eurásia. As sanções são apenas um pequeno capítulo desta história.

2 comentários:

  1. A fonte usada pelo blog é um sujeito que escreveu um livro chamado "Estados Unidos da Europa".

    Pressuponho que o blog defende como alternativa ao projeto russo o governo mundial da ONU, ao qual serve Bruxelas, que por sua vez é a grande inspiração do Mercosul.

    Só não sei o que um sujeito que se diz católico faz apoiando uma coisa dessas, por que uma ditadura científica mundial de católica não tem nada.

    Abraço.

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    1. Não importa a fonte: os dois artigos dão um panorama geral da ação do Kremlin na Europa. É um resumo geral. Este é o ponto.

      O blog é voltado às questões ligadas a Rússia. A crítica a certas ações NÃO implicam na defesa do outro lado.

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