(Christine Lagard, diretor geral do FMI, e Vladimir Putin, presidente da Rússia num dos diversos encontros paralelos realizados no encontro do G20.)
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou de surpresa, no dia 16 de novembro durante o encontro do G20 na Turquia, que estava disposto a negociar com a Ucrânia a reestruturação de sua dívida de U$ 3 bilhões que venceria dia 20 de dezembro. A proposta é oferecer à Kiev a possibilidade de pagar sua dívida em três vezes, um bilhão a cada ano até 2018.
Moscou, porém, considera que o empréstimo realizado à Ucrânia no final de 2013 ainda no governo Yanukovich é uma negociação entre Estados e não aceita a reestruturação da dívida nos moldes dos credores comerciais tal como afirma Kiev. Isto implicaria possivelmente perda financeira para a Rússia, a exemplo de uma das renegociação que o governo ucraniano realizou com o fundo de gestão de investimentos Franklin Templenton, que reduziu em 20% o valor total de U$ 15 bilhões a ser pago. É este tipo de reestruturação proposto pelo FMI para que o fundo conceda novos empréstimos à Ucrânia.
(Barricada e mensagens antiocidentais colocada por militantes pró-Rússia em frente à sede do governo em Donbass. Conflito na região já deixou mais de 8 mil mortos e mais de 1,4 milhão de desabrigados.)
O aceno de Putin à Ucrânia é mais do que mera necessidade financeira, vide a crise econômica que deve derrubar o PIB russo em 3,5% neste ano. É também estratégico. Primeiro, ele busca um aparente relaxamento das tensões entre russos e ocidentais, principalmente por terem, apesar dos diversos atritos, um inimigo em comum a ser combatido: o extremismo islâmico. O anúncio ocorreu num evento de grande visibilidade como o encontro do G20 e a três dias após os atentados em Paris que deixaram 130 mortos. Mas o mais importante, como sugere o jornalista da Rádio Europa Livre, Brian Whitmore, é que Putin está tentando ganhar tempo no conflito na Ucrânia. Nos últimos dias o conflito tem se intensificado na região de Donbass mesmo após as negociações de paz em mais um dos muitos vaivéns da crise. A estratégia russa de anunciar uma tentativa de acerto da dívida justamente após os chocantes atentados de Paris durante uma das mais importantes reuniões de líderes mundiais é a ocasião perfeita para Moscou desviar a atenção da Ucrânia. Quem olhará para um conflito que se arrasta à conta gotas e que é de interesse vital para o projeto eurasiano dos russos enquanto o mundo está voltado às questões econômicas típicas dos encontros do G20 e ao mesmo tempo aterrorizado com o massacre na França? Evidentemente saltam aos olhos do mundo a mortandade surpreendente, não uma guerra que se arrasta de forma discreta e indefinida.
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