terça-feira, 16 de junho de 2015

Moldávia: pivô de uma nova investida russa?


(Edifício do governo em Chisenau, capital da Moldávia.)


Desde o dia 8 de junho passado o consulado da Rússia na Transnístria, região da Moldávia no leste europeu, tem facilitado à população local a aquisição da dupla cidadania russa. O resultado foi uma corrida em massa para os locais de registro.

A minúscula Transnístria, junto à fronteira da Ucrânia, possui um movimento separatista com um parlamento próprio e uma independência de facto, mas não de júri. É um conflito até o momento sem solução, cuja situação está estagnada.


(Parlamento da Transnístria em Tiraspol.)


A crise na Ucrânia tem reavivado tensões sobre o movimento separatista na Transnístria. O movimento declarou formalmente independência de seu território do governo central da Chisenau, em 16 de abril de 2014, pouco depois da anexação da Crimeia pela Rússia, e pediu uma anexação formal ao território russo. No dia seguinte, o primeiro-ministro moldavo visitou o recém constituído governo ucraniano na expectativa de revigorar a relação entre os dois países e discutir uma maior integração com a União Europeia. A anexação da Transnístria pela Rússia não foi feita até o momento.

Para a Rússia é importante que a situação fique como está. Primeiramente, porque uma tensão interna na Moldávia dificulta uma aproximação deste país com a União Europeia. Autoridades russas já disseram que, caso o pequeno país decida integrar-se ao bloco europeu, ele irá perder a Transnístria. Com a situação pendente Moscou se utiliza do movimento separatista para interferir nas tentativas de aproximação da Moldávia com a Europa. Mesmo assim o governo de Chisenau assinou um Acordo de Associação com a UE, que prevê uma série de graduais reformas políticas e econômicas a fim de se associar com o bloco. As negociações do acordo contaram também com a presença das autoridades transnístrias a convite do governo moldavo na expectativa de desestimular o movimento de independência . Por outro lado, o governo russo não tem interesse em separar a Transnístria e/ou incorporá-la ao seu território. Isso poderia abrir um precedente para que outros movimentos separatistas dentro da Rússia, como na Chechênia e na Inguchétia, também lutassem por independência. Além do mais, Rússia e Transnístria não possuem fronteira, e parte da comunicação depende do trânsito pelo território da Ucrânia. O resultado é uma posição intermediária onde o movimento separatista não alcança a plena independência ao mesmo tempo em que Moscou se utiliza dele para interferir na política moldova.

Com o aumento da expedição de dupla cidadania, a população "russa" na Moldávia começa a crescer legalmente. A ação russa pode ser uma resposta da proibição, por parte do governo ucraniano, de proibir a dupla cidadania a seus habitantes, provavelmente uma forma de evitar a "multiplicação" de russos em seu território. A mesma reportagem destacada no primeiro parágrafo também traz informações a respeito do tratamento que a imprensa pró-Moscou na Moldávia e na Ucrânia dá ao assunto. Segundo a fonte, essa imprensa afirma que a Ucrânia tem aumentado a tensão na província de Odessa, que faz fronteira com a Moldávia, através do suposto alocamento mísseis de defesa na região com a finalidade de se preparar para uma guerra. O governador de Odessa é ninguém menos do que o ex-primeiro ministro da Geórgia, Mikhail Saaskashvilli, que governou este país durante a curta guerra com a Rússia, em 2008, e é um duro crítico do governo de Moscou. O aumento de uma população "russa" na Moldávia obrigaria a Rússia a criar laços mais íntimos com este país através da mencionada província ucraniana. É de conhecimento público as declarações do presidente Vladimir Putin a respeito do dever de seu governo de proteger as comunidades russas que estejam sob ameaça no exterior. 


Ao mesmo tempo em que a Rússia pressiona e intervém diretamente no leste da Ucrânia, agora ela age indiretamente no se flanco oeste. Resta saber como o Ocidente reagirá a essa situação caso haja o crescimento das tensões, grandemente insufladas pela mídia pró-Moscou. A crise na Ucrânia resultou em uma enxurrada de notícias e análises acadêmicas a respeito da reconfiguração da segurança regional do Leste Europeu e das relações entre Rússia, OTAN e União Europeia. A Moldávia seria um país pouco lembrado por russos e ocidentais caso não estivesse no miolo geográfico de uma tensão que envolve todos os seus grandes vizinhos.

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