terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Trump, parceiro da Rússia? Perguntem aos alemães


(Sede do consórcio Nord Stream AG em Zug, na Suíça.)

          De acordo com o jornal The Times do Reino Unido, o governo americano alertou empresas alemãs de que elas podem ser alvos de sanções econômicas dos EUA. A causa é a participação no projeto Nord Stream 2, um gasoduto de 1.200 km através do Mar Báltico que dobrará a capacidade da importação de gás natural da Rússia para a Alemanha. Correndo ao lado do já existente Nord Stream, o país poderá receber até 111 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, o dobro da sua capacidade atual. 

          O projeto de 9,4 bilhões de euros tem como principal empresa a estatal russa Gazprom e é promovido pelo consórcio Nord StreamAG, que tem como presidente do Comitê de Acionistas o ex-primeiro-ministro alemão Gerhard Schöreder, amigo pessoal de Vladimir Putin. O consórcio foi criado em 2005 com o objetivo de construir este gasoduto.

          O alerta de sanções foi dado pelo embaixador americano em Berlim que, segundo a reportagem, alertou que "empresas envolvidas na exportação de energia da Rússia estão participando de algo que poderia levar a um significativo risco de sanções", além de estarem minando a segurança da Ucrânia e da Europa. Um novo gasoduto até a Europa permitiria a Moscou cortar o suprimento de gás que passa pela Ucrânia, país em conflito armado com separatistas pró-Rússia. 

          Nas palavras de um funcionário americano, o alerta de Washington é uma "mensagem clara da política americana".

(Nord Stream - em verde - e Nord Stream 2 - em amarelo pontilhado.)

        Isto vai de encontro ao que comentei em minha última postagem: o governo Trump não é tão parceiro da Rússia quanto parece. O analista, consultor político e jornalista Taras Kuzio, especialista em política da Rússia e da Ucrânia, comentou em seu Twitter em 14 de janeiro que "a ameaça americana às empresas alemãs na construção do gasoduto mostra mais um vez que o governo Trump (apesar de suas muitas idiossincrasias) é um aliado da Ucrânia mais firme do que a União Europeia". 

          Como era de se esperar, Polônia e os Países Bálticos estão muito incomodados com o projeto russo-alemão. Estes últimos consideram o Nord Stream 2 um projeto político, e não econômico, que busca aumentar a dependência do gás russos pela Europa, e dá a Moscou a capacidade de influenciar politicamente o continente.

          Ao longo de 2019, porém, Angela Merkel defendeu a construção do gasoduto, posição que parece ter mudado ao final do ano devido as muitas críticas e pressões de partidários, opositores e aliados ocidentais. Trump acusou Merkel de ser "cativa" em relação aos russos.

          Mais do que as idiossincrasias da Casa Branca e o suposto "conluio" de Trump com a Rússia, a ameaça à segurança europeia vem principalmente da dependência energética da Rússia e os acordos de cooperação que o Kremlin tem construído com diversos partidos políticos e ativistas no continente.

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