quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A Rússia está cercando a Ucrânia. Por quê?

(Tanques dos separatistas pró-Rússia com bandeiras da República Popular de Donetsk: aumento do conflito na Ucrânia e cerco militar pela Rússia.)

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começaram oficialmente no dia 5 de agosto passado para onde se voltaram as atenções do mundo todo. Era uma sexta-feira. No mesmo final de semana, a tensão política e militar no conflito na Ucrânia cresceu perigosamente. Enquanto o mundo olhava para o Brasil, a Rússia iniciava sua escalada militar nas fronteiras do país vizinho. Mas por quê?

(Bombas caseiras que seriam dos supostos terroristas ucranianos. Foto da FSB.)

Segundo a Rússia, ações do serviço secreto e bombardeios do exército ucraniano seriam a causa da escalada. Na noite de sábado para domingo, 6 a 7 de agosto, um agente do serviço secreto russo (FSB) teria sido morto numa operação para prender um grupo de supostos terroristas membros da diretoria geral de inteligência do Ministério da Defesa Ucraniano perto da cidade de Armyansk. Eles teriam invadido a Crimeia com vinte explosivos caseiros e diversos armamentos (inclusive utilizados pelas forças ucranianas) que seriam usados para causar atentados e sabotar a infraestrutura local. O objetivo seria criar instabilidade política e prejudicar as eleições regionais e federais marcadas para o dia 18 de setembro. Moradores da região afirmaram terem ouvido tiros durante a operação, onde também foram presos alguns cidadãos russos e ucranianos que teriam colaborado com os invasores. As informações foi divulgadas num relatório da FSB dia 10.

Nas primeiras horas de segunda-feira, dia 8 (algumas fonte colocam noite do dia 7, o que sugere o período da madrugada seguinte), forças especiais da Ucrânia teriam tentado, por duas vezes, entrar na península utilizando forte ataque com veículos blindados do exército. Houve a morte de um militar russo. 
  
(Igor Plotnitsky, líder da autoproclamada República Popular de Luhansk desde agosto de 2014.)

Paralelamente às escaramuças na fronteira, outro acontecimento somou-se ao clima de tensão. Na manhã do dia 6 o líder da autoproclamada República Popular de Luhansk, Igor Plotnitsky, ficou gravemente ferido na explosão de uma bomba no carro em que estava na cidade de Luhansk. Um guarda-costas morreu e outros dois ficaram feridos, além de várias outras pessoas. O atentado foi confirmado pelo serviço de inteligência da Ucrânia, que disse haver uma luta pelo poder entre os militantes. A Rússia acusou a Ucrânia de realizar o ataque, e os militantes afirmaram que foi um "ato terrorista" de sabotadores ucranianos. Kiev negou a autoria e disse não ser a primeira vez que tentam assassinar um líder dos separatistas. 

O Kremlin tratou os casos como tentativas de ataque terrorista. Vladimir Putin realizou no dia 8 uma reunião com o Conselho de Segurança Russo com a presença de metade de seus doze membros, o que sugere a emergência do encontro. Segundo a imprensa russa, neste encontro as agências de governo foram preparadas para comunicar futuros acontecimentos e foram tomadas as primeiras medidas para reforçar o sistema de segurança da Crimeia. Nova reunião ocorreu no dia 11-feira com o objetivo de novamente melhorar a segurança na península, desta vez de seus habitantes e da infraestrutura, e tomar medidas "antiterroristas". O presidente russo disse, em sintonia com o relato da FSB, que a "Ucrânia está escolhendo o terror" e que não poderia deixar passar a morte de dois soldados seus. Já o primeiro-ministro Medvedev disse que a Rússia poderia cortar as relações com a Ucrânia caso as demais tentativas de resolver a nova crise falhassem. As fortes declarações de Putin serviram para aumentar a tensão na região e reafirmar que considera o governo de Kiev ilegítimo. 

Este dois eventos e a retórica agressiva do Kremlin são o ponto culminante do aumento da tensão na Ucrânia nos últimos meses. Desde maio o conflito tem se intensificado nas províncias de Donetsk e Luhansk, especialmente na porção sul destas localidades, apesar dos acordos de cessar-fogo realizados em Minsk em 2014 e 2015. Julho foi o mês mais violento em quase um ano, quando 42 soldados morreram e 181 ficaram feridos apenas do lado ucraniano. Tanto jornalistas quanto observadores da Organização para Cooperação e Segurança na Europa (OCSE), responsáveis por verificar o cumprimento dos acordos, relatam o bombardeio diário de morteiros e artilharia pesada que tem vitimado civis localizados em ambos os lados do combate. As violações viriam principalmente do lado russo.

A resposta da Rússia foi a escalada militar nas fronteiras da Ucrânia. Esta escalada não ocorreu apenas na Crimeia, mas ao redor de quase todo o país, à exceção das fronteira com a Bielorrússia e a Polônia. A movimentação russa pode ser conferida no mapa abaixo.  


A escalada militar russa começou dia 7 com o deslocamento de unidades aéreas e navais no Mar Negro, a movimentação de comboios, exercícios militares e um sistema de defesa aéreo na Crimeia.

Neste dia mais tropas e novos equipamentos militares da Rússia chegaram à Crimeia, e sua fronteira com a Ucrânia foi fechada. Entre os dias 8 e 9 tanques russos realizaram exercícios militares na Transnístria, região da Moldávia na fronteira sudoeste da Ucrânia, cujo movimento separatista é apoiado por Moscou. No dia 11 diversos comboios de caminhões, tanques e veículos russos entraram na Crimeia por terra através estreito de Kerch, como mostram imagens disponíveis na internet. Também foram colocadas novas tropas de apoios aos separatistas na região de Donbass (onde estão Donetsk e Luhansk) e novos navios de guerra e aviões de combate começaram a chegar no principal porto da península, Sebastopol, para se juntar à Frota do Mar Negro para a realização de exercícios militares. No dia 12 a Rússia instalou na Crimeia um sistema de mísseis terra-ar capaz de atingir uma distância estimada entre 250 e 400 km. Caso este alcance máximo seja verdadeiro, os russos podem abater qualquer avião que sobrevoe todo o sul da Ucrânia, região almejada pelos separatistas conhecida como Novorossya, até a divisa com Donbass onde o conflito está em andamento. 

Sem contar a Crimeia, a Rússia já mobilizou trinta e seis brigadas, infantarias e divisões num total de aproximadamente 100 mil homens nas fronteiras com a Ucrânia desde os últimos dias de julho.

(Comboio de caminhões em Kerch, província de Krasnodar, Rússia, em 8 de agosto indo em direção à Crimeia. Segundo o Grupo de Direitos Humanos da Crimeia, equipamento militar chegou à cidade já no dia 6, dia do atentado contra Plotnisky.)

Importante notar que toda esta mobilização russa em torno do território ucraniano já vinha em escalada desde julho, mas que havia grande mobilização de comboios no mesmo dia da tentativa de assassinato de Plonitsky o que pressupõe um planejamento prévio. A principal movimentação de tropas, exercícios militares, armamentos e a instalação do sistema de mísseis, começou no dia seguinte, dia da suposta invasão de "terroristas" na Crimeia que resultou na morte de um agente da FSB.  O tiroteio na fronteira que teria matado um soldado russo ocorreu um dia após o início da escalada. Esta movimentação foi acompanhada de uma retórica mais agressiva por parte do Kremlin dia 10, que prometeu reagir às supostas ações da Ucrânia. 

A resposta do governo ucraniano ocorreu no dia 11, dia da maior movimentação de tropas russas e da segunda reunião de Putin com seu Conselho de Segurança. O presidente Petro Poroshenko ordenou o aumento do nível de prontidão de todas as unidades militares posicionadas próximas à fronteira com a Crimeia e em Donbass. A decisão foi tomada com os principais oficiais de segurança para decidir o que fazer com a acusação de tentativa de "terrorismo" pela FSB. Ele também afirmou que a acusação de que Kiev teria feito os dois ataques são pretextos para ameaçar militarmente a Ucrânia.

Outras autoridade do país foram mais longe: acusaram o governo russo de "histeria", "cinismo" e "insanidade" e compararam os supostos dos ataques à Crimeia à estratégia de Hitler quando forjou um ataque militar polonês contra os nazistas em 1939 desencadeando a Segunda Guerra Mundial. Também compararam o apoio à guerra em Donbass ao Grande Terror de Stálin, período dos anos de 1930 em que o ditador soviético iniciou uma perseguição sistemática a supostos opositores do regime com julgamentos manipulados e execuções em massa. É interessante notar que mais uma vez autoridades e nacionalistas fazem um paralelo entre o atual conflito na Ucrânia e a experiência com o genocídio do povo ucraniano provocado deliberadamente por Stálin em 1932-33 e descrito com detalhes em O Livro Negro do Comunismo.    

(Yvhen Panov, ferido na testa, acompanhado por um agente russo: para a FSB um "terrorista".)

Uma das incógnitas em torno da tensão regional está na identidade do supostos terroristas. Os presos do grupo seriam sete, além de vários moradores locais, mas apenas um teve o nome divulgado. Chama-se Yevhen Panov. Segundo uma reportagem do jornal Ukraine Today, seu irmão, Igor Kotelyanets, deu uma entrevista à Rádio Europa Livre e disse que seu irmão teria sido sequestrado e levado à Crimeia, onde as ações terroristas teriam sido forjadas. Panov trabalhava como motorista de caminhão e entrou no exército assim que o conflito no leste do país iniciou em 2014 onde atuou como voluntário. Depois ele voltou para sua cidade natal, Zaporizhia, também no leste, onde trabalhava como técnico em uma usina nuclear. Igor disse que seu irmão "jamais iria para a Crimeia" e que era indiferente à questão da soberania da península. Antes de sua prisão ele iria encontrar amigos e voltaria para casa na segunda-feira, dia 8. Para Moscou, Panov era membro da inteligência militar ucraniana e teria "confessado" o suposto crime. Nas fotos divulgadas pela reportagem ele aparece preso e com o rosto machucado.

As movimentações da Rússia continuaram no dia 19. Nesta data Vladimir Putin fez uma visita surpresa à Crimeia, onde não ia desde agosto do ano passado. Na nova reunião com o Conselho de Segurança, realizada para adotar novas medidas de segurança na região, Putin voltou a acusar Kiev pela tentativa de "ataques terroristas" para inviabilizar o Acordo de Minsk e pela má vontade de manter boa relações com a Rússia. Mas estas duas declarações vieram num tom mais conciliador ao dizer que não havia qualquer plano de cortar relações com a Ucrânia, onde esperava que prevalecesse o bom senso, e ainda chamou seus oponentes de "nossos parceiros" possivelmente numa referência aos laços históricos entre os dois países. Nesta viagem o presidente russo também fez uma visita ao fórum educacional juvenil de Tavrida, realizado desde 2014 para formar uma comunidade de jovens artistas russos.

Desde então a situação mantém-se neste estado de tensão. As declarações de aparente conciliação de Putin na Crimeia não coincidem com a constante movimentação de tropas, exercícios militares, o aumento do número de soldados e munições e a continuidade dos combates no leste ucraniano. 

De acordo com a imprensa ucraniana, novos e amplos exercícios militares da Rússia iniciaram de forma rápida e simultânea em 26 de agosto com a mobilização de dezenas de milhares de homens das regiões militares Sul, Central, Ocidental e da frota marítima do Norte principalmente próximo das fronteiras com Ucrânia, Países Bálticos e na Crimeia. O objetivo era manter as tropas em prontidão para combate. Só na fronteira com a Ucrânia, em Donbass e na Crimeia foram alocados 41.600 homens de 24 grupos militares e 771 aviões e helicópteros. Enquanto isso os combates em Donbass continuaram. Apenas entre os dias e 4 de setembro houve pelo menos 27 ataques dos separatistas russos contra as tropas ucranianas, sendo 15 na região de Donetsk e 12 na de Mariupol, numa violação do Acordo de Minsk.   

(Separatistas pró-Rússia atuando na Ucrânia. Segundo as Forças Armadas ucranianas, seis mil recrutas russos atuam em Donbass e 35 mil separatistas são apoiados por Moscou.)

Analistas trazem diversas explicações para este aumento de temperatura. O pesquisador Aaron Lorewa diz que a principal razão desta nova tensão está nas eleições russas em setembro para a Duma e a crise no país combinada com as duas guerras em que Moscou está envolvida, na Síria e na Ucrânia. Para ele não teria como a Rússia sustentar ambos conflitos ao mesmo tempo, e justifica que a escalada nas fronteiras da Ucrânia serviriam para insuflar o nacionalismo e desviar a atenção para potenciais fraudes eleitorais. Mas Putin não precisaria disso, pois se o sistema eleitoral é dominado por membros do Kremlin não haveria necessidade gastar tantos recursos numa época de crise para mobilizar mais de cem mil homens e milhares de veículos e armamentos com o objetivo de desviar a atenção do público. Seria uma enorme mobilização desnecessária. Anders Asland, do Atlantic Council, faz um breve levantamento histórico dos grandes eventos que a Rússia esteve envolvida no mês de agosto: a ereção do Muro de Berlim em 1961, a Primavera de Praga em 1968, o golpe fracassado de 1991 e a Guerra da Geórgia em 2008. Neste último caso, Asland diz que o paralelo entre a atual tensão na Ucrânia e a guerra em 2008 são "chocantes". Ambos os casos ocorreram durante a escolha do presidente dos EUA, nos primeiros dias dos Jogos Olímpicos de Pequim e foram precedidos por grandes exercícios militares pelos russos. O histórico não garante a repetição dos fatos, mas a repetição do contexto da Guerra da Geórgia pode ser revelador de um modo de agir por parte do Kremlin.     

Penso que as breves análises de Noah Rothman e James Coyle chegam mais perto do problema ao destacarem o longo estancamento do conflito e a falta de reação dos países ocidentais às novas ações russas. Coyle destaca este estancamento e a crise econômica na Rússia, que combinados estariam forçando Moscou a intensificar o conflito. A questão parece mais complexa já que os russos têm poder para intensificar a guerra na Ucrânia, porém com o risco de uma possível reação do Ocidente. Apesar dos aliados de Kiev estarem cansados das sanções contra a Rússia e de sofrerem pressão de partidos aliados do Kremlin, isto são significa que estes países ficarão assistindo à escalada do conflito. Disto se deduz que Moscou está intensificando o conflito até o limite de uma reação ocidental e/ou da OTAN. É aí que entra a análise de Rothman (apesar de ter sido escrita cinco dias antes da de Coyle): Putin estaria forçando uma resposta do Ocidente, isto é, provocando para descobrir até onde é possível ir. Com as eleições americanas chegando, Obama sendo pressionado pelos colegas de partido a fazer frente às ações da Rússia e Trump declarando a possibilidade de relaxar as tensões com Moscou (além da Europa envolvida com o Brexit), o governo russo vai abrindo espaço numa Ucrânia cada vez mais enfraquecida e agora cercada. Isto abre a possibilidade, como diz um dos entrevistados pelo BBC, para que os separatistas consigam cumprir parte de sua agenda, que é legitimar politicamente as "repúblicas populares" de Donetsk e Luhansk, e levar o Acordo de Minsk ao fracasso. Não é interesse russo o cessar-fogo, ao menos não agora, já que isto diminuiria sua capacidade de barganha. Faltaria, portanto, uma reação dos países ocidentais para dificultar as pretensões da Rússia. É o que reclamou Yevhen Marchuk, membro do grupo Trilateral em Minsk, numa entrevista ao Ukraine Today:
 "Quando Putin disso isto [de acusar a Ucrânia de escolher táticas terroristas]?Depois de chegar a acordos com Erdogan. Qual era seu principal obstáculo no Mar Negro, no Bósforo e na Síria? A Turquia, e só então a OTAN. A visita de Putin a outro membro da OTAN, a Eslovênia, um sucesso? Foi. Ele e a primeira-ministra britânica concordaram em se encontrar? Isto pode não parecer significativo, mas eles entraram em concordo? Onde estava nosso presidente e diplomatas? Longe da Europa, mesmo embora sua visita fosse muito importante. Mas o que aconteceu durante a semana que ele estava ausente da Europa?"
A Ucrânia enquadra-se nos chamados frozen conflicts (conflitos congelados), que se caracterizam por não estarem necessariamente encerrados e não possuir um acordo paz definitivo. Eles são comuns nas repúblicas que compunham a antiga URSS e que hoje estão na esfera de influência da Rússia. Nestes países há territórios habitados por minorias étnicas com problemas de relacionamento com o governo central. Elas iniciam um movimento separatista que leva a um conflito armado. Este movimento vem acompanhado de ajuda militar russa, já que tais minorias ou são russas ou são simpáticas à Moscou, que intervém militarmente sob alegação de proteger russos no exterior ou aliados. São os casos da Transnístria na Moldávia, de Nagorno-Karabakh no Azerbaijão e da Abkházia e da Ossétia do Sul na Geórgia. O resultado é uma separação territorial de facto, mas sem o reconhecimento oficial de todo o mundo, à exceção da Rússia e pequenos aliados. Por não estarem definitivamente encerrados, estes conflitos podem reaquecer e dar início a novos confrontos armados.

(Territórios em disputa, local dos frozen conflicts, aparecem escurecidos no mapa. Em o todos os casos há atuação da Rússia. Somada à Síria, são uma anexação e seis intervenções simultâneas.)

Os frozen conflicts possuem quatro elementos que são determinantes para sua dinâmica: a instabilidade interna nos países onde ocorrem, o nível de estabilidade política da Rússia (o que influencia em sua política externa), a reação do Ocidente às ações russas e os objetivos do governo Putin. Esta análise foi feita por um grupo de especialistas da USIP (United States Institute for Peace) que propõe uma reavaliação da política externa americana na região. A mesma posição é defendida por Agnia Grigas, pesquisadora do Atlantic Council. Grigas afirma que os "conflitos congelados" estão interconectados e revelam "um padrão da política externa russa". A intervenção dá à Rússia o controle das regiões separatistas no longo prazo sem ter que necessariamente lidar com os custos de uma anexação (com exceção da Crimeia).  

O trabalho da USIP merece destaque porque mesmo tendo sido realizado no verão de 2014 (portanto há dois anos atrás) ele revela-se acertado sobre a dinâmica da atual tensão. Os especialistas dizem que Putin quer manter um "conflito constante", instabilizar a Ucrânia e "exibir a força russa frente à uma comedida resposta americana e europeia". É o que está acontecendo com as sucessivas violações dos Acordos de Minsk. A constante instabilidade regional e as falhas em estabelecer um cessar-fogo faz com que a crise se torne um "conflito congelado de facto". Ao mesmo tempo existe uma "falta de vontade e de habilidade dos EUA e das potências europeias (...) em apoiar a Ucrânia e motivar a Rússia a acabar com sua agressão". Além da guerra, o governo de Kiev mantém-se desgastado por pressão interna e externa por reformas políticas e financeiras que teriam como objetivo combater a corrupção e tornar o país apto a receber ajuda econômica ocidental. 

 (Dormindo no ponto: enquanto as potências ocidentais não reagem, a Rússia vai avançando no seu projeto eurasiano e vai incorporando a Ucrânia à sua esfera de influência.)

Conflito em andamento, envolvimento em duas guerras num momento de crise econômica, falta de reação do Ocidente e desgaste do governo ucraniano: é o cenário perfeito para Moscou agir. Com os EUA ocupado com as novas eleições, a Europa envolvida com o Brexit e o conflito se prolongando indefinidamente os russos encontraram mais espaço para intensificar sua atividade militar dentro e fora da Ucrânia. Não foi de graça que as novas ações começaram no final de semana de abertura dos Jogos do Rio, quando as atenções estavam voltadas ao Brasil. Mas isto já estava planejado antes dos conflitos na fronteira com a Crimeia (conflitos estes pouco convincentes dado o histórico de atuação do serviço secreto russo) como mostram as movimentações militares em Kerch no dia 6. Enquanto o Ocidente dorme no ponto sem dar sinais de uma reação efetiva, Moscou dá novos passos na implantação de seu projeto eurasiano. 

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